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A Epidemia dos Fones de Ouvido
Os gestores devem estar atentos a esse hábito aparentemente inofensivo, mas que pode ter implicações importantes na comunicação e no trabalho em equipe. Publicado em Sat Nov 30 22:58:00 UTC 2013 - Edição 791Quem é atento e costuma circular por diversas empresas já deve ter observado um fenômeno cada vez mais comum: a quantidade de profissionais, sobretudo jovens, que costuma trabalhar ouvindo música com fones de ouvido. Um hábito inofensivo, podem pensar os gestores. Uma forma de facilitar a concentração, acreditam os próprios usuários. Uma escolha pessoal que não interfere no trabalho, parece concordar a maioria. Na verdade, esse hábito, que está virando uma verdadeira epidemia nas organizações, tem, sim, importantes implicações no trabalho em equipe.
Um dos maiores desafios nas organizações é formar equipes integradas, que interajam de forma positiva, com um bom relacionamento interpessoal entre os profissionais, em um clima de colaboração. Além disso, as empresas investem cada vez mais em uma comunicação interna eficaz, na qual as informações circulem e os ruídos sejam minimizados, facilitando o trabalho em grupo. Para alcançar esse objetivo, muitas empresas, inclusive, investiram em reformas físicas ao longo da última década, substituindo as salas individuais por espaços e baias coletivas.
Nesse ambiente, o uso de fones de ouvido atua como um sabotador silencioso da boa comunicação. Ao utilizá-lo, o profissional mergulha em um universo próprio, concentrado apenas em sua tarefa e isolado do resto do grupo. A pretexto de facilitar sua concentração, os fones na verdade o tornam alheio do que se passa ao redor ― os comentários, as conversas, as brincadeiras e outras formas de interação da equipe. Mais que isso: quem trabalha o tempo inteiro com fones no ouvido pode passar uma imagem de que não quer ser incomodado nem está disponível para um contato mais próximo, como, por exemplo, para tirar a dúvida de um colega. A mensagem transmitida seria: “não perturbe, estou ouvindo a minha música e não quero papo”.
Os adeptos muitas vezes argumentam que os fones ajudam a manter o foco no trabalho e que o barulho dos colegas incomoda e prejudica a concentração. A questão é que aquele burburinho do ambiente de trabalho na verdade é a trilha sonora sobre a qual são construídos os laços entre os integrantes da equipe. É por meio de uma informação compartilhada, um comentário, uma opinião ou uma conversa informal que vão se firmando as relações e se estabelecendo os vínculos entre as pessoas.
Se o isolamento provocado pelo uso do fone é intencional, o profissional deve ficar atento a que imagem está passando para o resto do grupo e se questionar se esse hábito está de fato lhe trazendo algum tipo de ganho.
Já os gestores precisam estar conscientes desse fenômeno. Em um primeiro momento, talvez não seja o caso de proibir, mas de conversar com o profissional sobre as implicações e perdas envolvidas. Algumas empresas resistem, achando que se trata de uma interferência no estilo pessoal do empregado. Porém, a partir do momento em que o hábito de usar fones de ouvido afeta o relacionamento do profissional com a equipe, a integração ou a comunicação, o tema passa a demandar um posicionamento do gestor.
Por fim, é importante deixar claro que se pode escutar música no local de trabalho, desde que em som ambiente, em um volume que não atrapalhe o grupo e, de preferência, com o estilo musical acordado por todos. Não se trata de desrespeitar um direito pessoal, mas, sim, de priorizar o coletivo, o que, em última instância, é um dos princípios do funcionamento de qualquer equipe.