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Recife e os seus rios

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Publicado em 05.07.2019 -

 Entrevistamos o arquiteto e paisagista Luiz Vieira, que falou sobre a relação dos recifenses com os seus rios e como se engajar na luta por águas mais limpas é essencial para a sociedade.

Como é hoje a relação dos recifenses com os seus rios?

Ao longo de sua história o Recife foi se construindo através das intervenções urbanísticas, arquitetônicas e paisagísticas resultando numa cidade de rara beleza e de incríveis paisagens, devido principalmente a presença das águas. Riachos, canais, rios e oceano oferecem diferentes escalas de espaços e horizontes dentro de um sistema hídrico que estrutura o meio ambiente.
No entanto na segunda metade do século XX o Recife cresceu desordenadamente sem um projeto de cidade e baseado no urbanismo rodoviário predominante nas décadas de 50-80, quando o automóvel foi o grande catalisador do desenho urbano. Pedestres e ciclistas foram negligenciados pelo sistema viário, resultando em calçadas estreitas, com arborização deficiente, espaços públicos tomados para estacionamentos, poluição sonora e do ar, e insegurança. Riachos foram canalizados e espremidos por ruas ou ocupados por moradias informais prejudicando a drenagem natural e acabando com o ecossistema da mata ciliar. Consequentemente os rios passaram a ser “paisagem invisível” para os recifenses que passaram a valorizar as águas salgadas do mar nas belas praias locais.
As margens do Rio Capibaribe também foram muito afetadas pela urbanização desenfreada e teve vários trechos ocupados por ruas do sistema viário beira-rio, um projeto que previa a implantação de duas vias marginais, com quatro faixas cada, ao longo de todo o rio. Felizmente esse processo foi descartado pela atual gestão da prefeitura que iniciou o Projeto Parque Capibaribe, desenvolvido pelo Inciti/UFPE, seguindo a tendência mundial de renaturalização e uso recreativo e de lazer das margens do rio e mobilidade não motorizada, em conformidade com os sistemas ambientais, urbanos e sociais.

Qual a importância de a população esta envolvida na recuperação dos rios?

Um dos grandes desafios de um projeto de longo prazo é que a população se aproprie do plano urbanístico e demande a sua implantação, em diferentes governos, com a avaliação da academia e da sociedade civil organizada. Essa é a única maneira de se evitar o engavetamento do Projeto Parque Capibaribe e garantir sua gradativa implantação, de acordo com as prioridades e possibilidades de investimento público e privado. Consequentemente, é preciso que as pessoas sonhem com o futuro, com a cidade parque, mas também é fundamental que as pessoas se encantem no presente, com as etapas do parque construídas.
O conceito do projeto procura revelar a paisagem do rio para que as pessoas se apoderem desse patrimônio através de intervenções pontuais que facilitem a permanência e o deslocamento. O fascínio das águas, blue space ¹, a apreensão da vegetação, greenspace, e o convívio com o entorno edificado, grayspace, são os grandes catalisadores desse processo de “renascimento” do convívio com o rio.
Luiz Vieira, arquiteto paisagista, professor de projetos no Departamento de arquitetura e Urbanismo-UFPE, Coordenador do Projeto Parque Capibaribe e socio da Luiz Vieira Arquitetura de paisagem.

 


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