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O Mito do Profissional Autossuficiente
Cuidado com as generalizações cada vez mais recorrentes acerca dos profissionais da chamada Geração Y. Publicado em 27.02.2011 - Edição 647 A discussão em torno da chamada Geração Y, também conhecida como Geração Internet, tem ocupado um espaço crescente na mídia, sobretudo na que se volta para o mundo corporativo. Trata-se da geração dos jovens com menos de 30 anos, nascidos durante a década de 80 do século passado, nativos da internet que tentam se inserir ou se estabelecer no mercado de trabalho.
Uma experiência interessante para se familiarizar com o tema é digitar Geração Y no Google e acessar as mais de dez páginas de sites sobre o assunto. Chama a atenção a descrição homogeneizada, quase estereotipada, que se faz dos jovens dessa geração. Trata-se de um verdadeiro check list de suas características, dentre as quais se destacam o imediatismo, o hedonismo, a dificuldade de lidar com a frustração e de reconhecer hierarquia e limites, a necessidade de reconhecimento e elogios constantes, a preocupação com a própria empregabilidade, o pouco compromisso e nenhuma fidelidade às organizações em que trabalham. Com grande domínio dos recursos tecnológicos, são pouco afeitos aos modos tradicionais de comunicação e transmissão da informação e do conhecimento. Resumindo, são descritos como pessoas centradas em si mesmas, com dificuldade de reconhecer os limites e o outro, com baixa capacidade de estabelecer vínculos consistentes e duradouros, portanto, autossuficientes e desenraizadas.
Esse perfil, inflado e insuflado pela mídia, tem induzido as gerações anteriores a verem esses jovens como uma espécie de gente tão diferente, mas tão diferente, que toda a sua experiência acumulada e a própria produção da humanidade durante séculos a fio parecem não ter para eles a menor utilidade. Como se o seu mundo e a sua humanidade se definissem pelo domínio e pelo uso da tecnologia.
Ora, sem desconsiderar as especificidades de cada geração, é importante atentar para o equívoco e os perigos dessa posição. Primeiro, porque as generalizações não dão conta da diversidade das pessoas que continuam, como sempre, radicalmente diferentes entre si. Aliás, ainda bem, é difícil encontrar, na vida real e no cotidiano das organizações, pessoas que correspondam integralmente a esse perfil. Segundo, porque representará um blackout para a civilização se as gerações passadas se convencerem de que nada têm a transmitir ou ensinar às futuras. Nas organizações, isso significaria eximir os gestores do compromisso e da responsabilidade de investir na formação e no desenvolvimento de suas equipes, o que continua sendo um importante diferencial competitivo.
Que venham, pois, as gerações Y, Z, Alfa e Beta para aprenderem e ensinarem umas às outras, porque o mundo não começou nem acabou com o advento de qualquer geração, apesar das enormes transformações por que passou ao longo dos milhares de anos de sua história.