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A Hora da Educação Profissional

Estigmatizados como uma opção para as classes menos favorecidas, os cursos profissionalizantes asseguram alto nível de empregabilidade e bons salários.
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Publicado em 26.12.2010 - Edição 638

          Um dos grandes desafios da educação brasileira, além de sua precária qualidade, é a diminuição do alto índice de evasão escolar da rede pública, considerado um dos segmentos de maior fragilidade de todo o sistema educacional de ensino, especialmente no Ensino Médio. Hoje, metade dos alunos matriculados não conclui os estudos. Pesquisas apontam que o atual modelo é considerado desinteressante pelos estudantes, o que produz evasão e, consequentemente, diminui o seu tempo de permanência na escola.
          Apesar da importância do investimento em atratividade e na qualidade do currículo escolar, a necessidade desses alunos de ajudar a subsistência da família provoca corte prematuro em sua trajetória estudantil. Por essa razão, pode ser uma iniciativa imprescindível resgatar o caráter de terminalidade do Ensino Médio, o que implica articulá-lo à educação profissional no nível técnico, e não servir apenas de passagem para o Ensino Superior. Os cursos técnicos profissionalizantes têm se constituído uma boa escolha para ingressar no mercado: asseguram um alto nível de empregabilidade e salários satisfatórios.
          Preocupado com a questão, o MEC tem proposto o projeto Ensino Médio Inovador, já implantado em 357 escolas públicas do País, cujo objetivo é tornar o currículo mais atraente para os jovens, incluindo disciplinas optativas e aulas práticas. Em Pernambuco, tem sido adotada a implantação de escolas de referência na rede estadual, que funcionam em tempo integral e buscam, por meio de inovações curriculares e metodológicas, tornar o aluno um sujeito autônomo, capaz de participar ativamente na sua comunidade e competente como profissional futuro.
          No entanto, devido à sua origem, como herança do processo de colonização e, mais tarde, formadora de mão de obra para atender à linha de montagem da indústria, a educação profissional foi estigmatizada como opção para pobres e desfavorecidos. Estigma que perdura até hoje quando se constata que o curso técnico não faz parte das aspirações da maioria dos estudantes do Ensino Médio. Segundo dados do Inep, órgão vinculado ao MEC, a situação das matrículas dos cursos técnicos no Brasil em 2009 representava 8,3% do total, enquanto no Ensino Superior, 58,3%. Em Pernambuco, a realidade não é diferente. Os cursos técnicos representavam 3,9% do total de matrículas, enquanto o Ensino Superior, 35,9%.
          Na contramão dessa tendência, pesquisa realizada recentemente pelo economista da Fundação Getulio Vargas Marcelo Neri comprova que os egressos de alguma modalidade de educação profissional — qualificação profissional, Ensino Médio Técnico ou curso superior profissionalizante — têm 48,2% mais chances de conseguir uma ocupação profissional do que quem não fez esses cursos. Além disso, no contexto da economia do conhecimento e diante de um mercado de trabalho volátil e competitivo, a exigência por competência extrapola a formação acadêmica.
          Vale lembrar que, para Pernambuco, a formação técnica adquire importância estratégica no atual boom do seu desenvolvimento econômico. São mais de R$ 45 bilhões investidos em projetos estruturadores para alavancar o desenvolvimento do Estado, a exemplo do Polo Naval, da Refinaria Abreu e Lima, da Ferrovia Transnordestina, dos polos farmacoquímico e petroquímico, etc. (agência Condepe Fidem). Esses projetos estão alterando a realidade do Estado, devem duplicar a economia na próxima década e precisam de mão de obra habilitada. 
          Será que a perspectiva de uma formação no nível técnico mais imediata não pode tornar nossos estudantes menos vulneráveis às demandas da sua realidade? Os cursos técnicos não podem ser o rumo de quem deseja adquirir a qualificação necessária para enfrentar um mercado exigente e dar sustentação à continuidade dos estudos? 
          Tudo indica que, para realçar a importância da educação, a escola precisa resgatar sua função de dar sentido e aplicabilidade ao conhecimento, assessorando o estudante na construção de um projeto profissional que dê visibilidade aos caminhos para a conquista de seu futuro.
 


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