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Aprendendo com o Erro
Empresas que apostam em um modelo de gestão democrático encaram o erro como uma oportunidade de aperfeiçoamento. Publicado em Sun Jan 31 18:10:00 UTC 2010 - Edição 591
Errar é humano, diz, com toda propriedade, o jargão popular. De fato, errar é uma consequência da condição falível de qualquer ser humano. Mas, na gestão, o erro pode ser encarado de várias formas, dependendo do estilo do gestor e do modelo de gestão em que ele atua.
Hoje, há uma tendência cada vez mais forte para se implantar modelos de gestão democráticos, caracterizados por relações de poder menos verticalizadas, mais recíprocas e corresponsáveis. No entanto, até porque a democracia é um fato historicamente muito recente no País, não é raro encontrar organizações, públicas ou privadas, regidas por modelos de gestão autoritários e centralizadores, com gestores adaptados a esse tipo de gerenciamento e funcionários surpreendentemente submissos e dependentes. O erro nesses dois modelos é encarado de forma diferente, e seus efeitos na gestão são bastante diversos.
Há, entre os dois contextos, um divisor de águas decisivo. Enquanto numa gestão democrática há um reconhecimento do poder, do saber e dos limites de cada um, numa gestão centralizadora há uma idealização e uma concentração do saber e do poder na figura do gestor. A ele, são atribuídos todo o saber, todo o poder e, consequentemente, toda a responsabilidade pelo projeto organizacional. É a lógica do quem sabe e pode manda em quem não sabe e tem que obedecer.
Sob essa ótica, o erro só pode ser visto como falha ou desobediência. Uma confirmação da incompetência e da incapacidade, e, assim, nada de positivo lhe pode ser atribuído. Nesse contexto, tenta-se corrigir e evitar o erro através da culpabilização e da punição dos que o cometem. Instala-se aquela conhecida e frequente situação: quem pune fica com a sensação de dever cumprido, e quem é punido se sente apaziguado e quite com o chefe por ter pago o preço pelo erro cometido. O que é nefasto para a gestão é que as atitudes de ambos os lados permanecem as mesmas.
Em uma gestão democrática, por outro lado, o erro toma uma feição bastante diferente. Como há um reconhecimento do saber, do poder e dos limites de cada um, tanto por parte do gestor como de seus subordinados, o erro é tomado como uma expressão da condição falível do homem e, portanto, é encarado como um evento inevitável no ambiente e no exercício do trabalho. Nesse contexto, saber lidar com ele é uma das habilidades indispensáveis de um bom gestor. Depende decisivamente de suas ações o desenvolvimento de um clima organizacional em que os erros possam ser reconhecidos, assumidos e encarados por todos como oportunidade de aprendizagem e aperfeiçoamento.
Sabe-se que isso não é fácil e depende de um investimento árduo e contínuo do gestor. No entanto, embora não haja fórmulas garantidas, o compartilhamento do projeto e da estratégia organizacionais, o estabelecimento de padrões construídos coletivamente e monitorados de forma sistemática e a implantação de um sistema de avaliação permanente são ferramentas eficientes para que um gestor possa beneficiar-se do erro, transformando-o numa oportunidade de aprendizagem e aperfeiçoamento.
Além dessas ferramentas, podem-se destacar ainda algumas atitudes necessárias para uma gestão satisfatória do erro. Primeiro, jamais caçar culpados, porque essa prática só gera descompromisso e insatisfação; segundo, não valorizar excessivamente o erro, mas ressaltar o que se pode aprender com ele; terceiro, aceitar críticas sem personalizá-las ou retaliá-las; quarto, assumir o próprio erro e explicitar de forma construtiva o erro do outro; e quinto, ser solidário sem ser conivente.
Em um depoimento, a pediatra Zilda Arns, falecida recentemente no trágico terremoto do Haiti, deu um bom exemplo de como encarar o erro de forma positiva. Só iniciava a avaliação dos projetos ligados à Pastoral da Criança, entidade fundada e gerida por ela, com uma salva de palmas, segundo ela, um reconhecimento aos acertos e às realizações. Em seguida, identificava e reconhecia os erros passados para orientar as ações futuras, dando um bom exemplo de como se pode aprender com eles e como representam uma oportunidade, e não um empecilho ao aperfeiçoamento. Levando-se em conta esse depoimento, perdeu-se uma boa gestora junto à grande figura humana que era Zilda Arns.
Hoje, há uma tendência cada vez mais forte para se implantar modelos de gestão democráticos, caracterizados por relações de poder menos verticalizadas, mais recíprocas e corresponsáveis. No entanto, até porque a democracia é um fato historicamente muito recente no País, não é raro encontrar organizações, públicas ou privadas, regidas por modelos de gestão autoritários e centralizadores, com gestores adaptados a esse tipo de gerenciamento e funcionários surpreendentemente submissos e dependentes. O erro nesses dois modelos é encarado de forma diferente, e seus efeitos na gestão são bastante diversos.
Há, entre os dois contextos, um divisor de águas decisivo. Enquanto numa gestão democrática há um reconhecimento do poder, do saber e dos limites de cada um, numa gestão centralizadora há uma idealização e uma concentração do saber e do poder na figura do gestor. A ele, são atribuídos todo o saber, todo o poder e, consequentemente, toda a responsabilidade pelo projeto organizacional. É a lógica do quem sabe e pode manda em quem não sabe e tem que obedecer.
Sob essa ótica, o erro só pode ser visto como falha ou desobediência. Uma confirmação da incompetência e da incapacidade, e, assim, nada de positivo lhe pode ser atribuído. Nesse contexto, tenta-se corrigir e evitar o erro através da culpabilização e da punição dos que o cometem. Instala-se aquela conhecida e frequente situação: quem pune fica com a sensação de dever cumprido, e quem é punido se sente apaziguado e quite com o chefe por ter pago o preço pelo erro cometido. O que é nefasto para a gestão é que as atitudes de ambos os lados permanecem as mesmas.
Em uma gestão democrática, por outro lado, o erro toma uma feição bastante diferente. Como há um reconhecimento do saber, do poder e dos limites de cada um, tanto por parte do gestor como de seus subordinados, o erro é tomado como uma expressão da condição falível do homem e, portanto, é encarado como um evento inevitável no ambiente e no exercício do trabalho. Nesse contexto, saber lidar com ele é uma das habilidades indispensáveis de um bom gestor. Depende decisivamente de suas ações o desenvolvimento de um clima organizacional em que os erros possam ser reconhecidos, assumidos e encarados por todos como oportunidade de aprendizagem e aperfeiçoamento.
Sabe-se que isso não é fácil e depende de um investimento árduo e contínuo do gestor. No entanto, embora não haja fórmulas garantidas, o compartilhamento do projeto e da estratégia organizacionais, o estabelecimento de padrões construídos coletivamente e monitorados de forma sistemática e a implantação de um sistema de avaliação permanente são ferramentas eficientes para que um gestor possa beneficiar-se do erro, transformando-o numa oportunidade de aprendizagem e aperfeiçoamento.
Além dessas ferramentas, podem-se destacar ainda algumas atitudes necessárias para uma gestão satisfatória do erro. Primeiro, jamais caçar culpados, porque essa prática só gera descompromisso e insatisfação; segundo, não valorizar excessivamente o erro, mas ressaltar o que se pode aprender com ele; terceiro, aceitar críticas sem personalizá-las ou retaliá-las; quarto, assumir o próprio erro e explicitar de forma construtiva o erro do outro; e quinto, ser solidário sem ser conivente.
Em um depoimento, a pediatra Zilda Arns, falecida recentemente no trágico terremoto do Haiti, deu um bom exemplo de como encarar o erro de forma positiva. Só iniciava a avaliação dos projetos ligados à Pastoral da Criança, entidade fundada e gerida por ela, com uma salva de palmas, segundo ela, um reconhecimento aos acertos e às realizações. Em seguida, identificava e reconhecia os erros passados para orientar as ações futuras, dando um bom exemplo de como se pode aprender com eles e como representam uma oportunidade, e não um empecilho ao aperfeiçoamento. Levando-se em conta esse depoimento, perdeu-se uma boa gestora junto à grande figura humana que era Zilda Arns.