No livro Urbanismo Como Paisagem, o autor Charles Waldheim defende que a prática do urbanismo como paisagem evoluiu para ocupar um vazio criado pela mudança do planejamento urbano em direção a um modelo de ciência social e longe do desenho físico, na última metade do século passado, ao mesmo tempo que o desenho urbano se comprometia com modelos neo-tradicionais de planejamento urbano. (...) A arquitetura paisagística muda de uma posição de certezas positivistas sobre os mecanismos das funções ecológicas para uma posição cultural relativista da ecologia, como um modelo para se entender a complexa interação entre natureza e cultura. Dentro dessa visão de paisagem, selecionamos dois exemplos de nossa prática profissional em locais distintos, privado e público.
No Nannai Muro Alto Beach Resort, temos uma intervenção de arquitetura paisagística que vai se moldando através do coqueiral existente, criando diferentes ambientes para atender as necessidades dos hóspedes. A locação dos bangalôs foi pensada para criar espaços e visuais que resultaram em diferentes vilas com jardins de areia e jardins de água. A vegetação plantada nos jardins de areia nas vilas 3 e 4, tem predominância de espécies nativas de restinga e propicia uma experiência ao hóspede de se inserir nesse ambiente tropical. Os jardins de água interligam as vilas 1 e 2 e circundam o complexo de piscinas, resultando numa superfície ondulante que se dilui em diferentes tonalidades de azul com a incidência dos raios solares e também tem um efeito de espelhamento nos decks molhados. Essa intervenção criou uma diversidade de espaços, lugares e equipamentos em harmonia com a paisagem da Praia de Muro Alto.
A prática do urbanismo paisagem vem suplantando o tradicional papel do planejamento urbano em projetar a forma da cidade contemporânea através da síntese da função ecológica e a cultura projetual (Waldheim, 2016). No Parque Maximiano Campos, temos uma intervenção que mescla arquitetura de paisagem com urbanismo paisagem e a elaboração do projeto levou em consideração três fatores principais: a ocupação histórica de Apipucos, o meio ambiente com ênfase ao elemento água e a paisagem. A primeira etapa foi denominada Janela Para O Capibaribe e se estende entre o açude, aonde tem uma praça de chegada e o rio, com um passeio nas margens que também deveria dar acesso a um píer de atracação de barcos, ainda não construído. Localizado no eixo diagonal com foco na Igreja de Apipucos, o Pavilhão Casa Grande, uma referência ao livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, cuja Fundação se encontra na vizinhança, constitui-se na grande estrutura do Parque, com um pergolado que abriga quiosques e áreas de estar. Um amplo espaço gramado forma um anfiteatro natural para a realização de eventos culturais, tais como shows e concertos, além de local para brincadeiras da criançada. Esse parque tem potencial de se consolidar como um pólo de lazer e cultura através da valorização dessa paisagem.
