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As Lições do caso Eike

Um bom plano de negócio deve conter estimativas conservadoras, de modo que os percalços que porventura ocorram possam ser superados com relativa facilidade.
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Publicado em 12.01.2013 - Edição 797

O Brasil é um dos mais importantes países pertencentes à categoria de emergentes em todo o mundo, grupo que pode ser identificado por uma série de características próprias, entre elas a carência de infraestrutura. Se por um lado esse gargalo representa uma ameaça à nossa competitividade, por outro abre uma grande brecha de oportunidades para os empresários, pela necessidade urgente de novos investimentos. Foi de olho nesse potencial que, há alguns anos, o Brasil assistiu ao aparecimento de um brilhante empresário, investidor de minas de diamantes, sucesso absoluto no campo empresarial e pessoal: Eike Batista. Do apogeu à derrocada, a história de Eike e seu império deixa lições importantes para qualquer pessoa que deseje empreender, mesmo sem ter, nem de longe, a mesma capacidade de investimento que ele.

Tendo vendido suas minas de diamantes, à procura de novas oportunidades, Eike se voltou para a sua terra natal e vislumbrou um mar de oportunidades emergentes. Sim, pois o Brasil, ano após ano, somava bons crescimentos no PIB, enquanto que as carências em infraestrutura foram se multiplicando. O empresário preparou projetos da maior importância para o Brasil, sempre com a letra X em seu nome, agrupados numa holding igualmente identificada. Era a mãe EBX e suas filhas: LLX (logística), MMX (mineração), MPX (energia), e OGX (petróleo).

Com planos de negócios ambiciosos, buscou o apoio na iniciativa privada, de grandes e pequenos investidores que quisessem aderir à sua empreitada. Usando a força de sua imagem de sucesso e estratégias de marketing pessoal que o transformaram em uma celebridade, tornou-se o mais importante empresário brasileiro. Suas empresas, igualmente midiáticas, foram o sucesso da Bolsa em 2009. Nesse período, a LLX teve suas ações valorizadas em 500%; a MMX, em 345,8%; a MPX, em 249%; e a OGX, em 208%.

Mas algo deu errado e as coisas não saíram como o planejado. Vieram a crise financeira, imprevistos na construção das obras de engenharia, um poço de petróleo que não apresentou a performance esperada. Foi quando vários sócios preferiram abandonar o barco e vender suas ações, fazendo o preço desabar nas bolsas. Nessa fuga, todos perderam. Eike Batista viu seu patrimônio derreter e 99% de seus ativos simplesmente desaparecerem em 2013.

A primeira lição — velha conhecida de todos — ficou para os investidores em Bolsa de Valores. Não se deve apostar todas as suas fichas em um negócio, por mais promissor ou certo que ele possa parecer. É preciso diversificar o portfólio e investir esperando apenas retorno a longo prazo.

Outro ensinamento importante: os planos de negócios devem ser vistos apenas como planos, e não como certezas. Não se deve esquecer de que: (1) O investimento planejado ainda está em projeto. (2) O cronograma de obras é uma previsão do que será executado no tempo. (3) As receitas futuras são apenas estimativas, da mesma forma que os custos e as despesas. Não existem certezas absolutas.

Planos de negócios, vale repetir, não são certezas — nem mesmo os pequenos. Ninguém constrói uma casa sabendo exatamente quanto vai gastar nem em quantos dias vai terminá-la. Porém, deve-se iniciar a construção com um bom projeto, pois eles tendem a ser mais confiáveis e eficientes. Um bom plano de negócio deve conter estimativas conservadoras, de modo que os percalços que porventura ocorram possam ser superados com relativa facilidade.

Adotar alguns cuidados simples e manter sob controle o entusiasmo e a ansiedade em botar o novo negócio para rodar evitaria que muitos empreendimentos fechassem antes mesmo de abrir. Pode ser que não se consiga acertar o ponto “X” com exatidão, mas pode-se chegar ao “Y” com uma equação de fácil resolução.


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