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As Lições do caso Eike
Um bom plano de negócio deve conter estimativas conservadoras, de modo que os percalços que porventura ocorram possam ser superados com relativa facilidade. Publicado em Sat Jan 12 23:47:00 UTC 2013 - Edição 797O Brasil é um dos mais importantes países pertencentes à categoria de emergentes em todo o mundo, grupo que pode ser identificado por uma série de características próprias, entre elas a carência de infraestrutura. Se por um lado esse gargalo representa uma ameaça à nossa competitividade, por outro abre uma grande brecha de oportunidades para os empresários, pela necessidade urgente de novos investimentos. Foi de olho nesse potencial que, há alguns anos, o Brasil assistiu ao aparecimento de um brilhante empresário, investidor de minas de diamantes, sucesso absoluto no campo empresarial e pessoal: Eike Batista. Do apogeu à derrocada, a história de Eike e seu império deixa lições importantes para qualquer pessoa que deseje empreender, mesmo sem ter, nem de longe, a mesma capacidade de investimento que ele.
Tendo vendido suas minas de diamantes, à procura de novas oportunidades, Eike se voltou para a sua terra natal e vislumbrou um mar de oportunidades emergentes. Sim, pois o Brasil, ano após ano, somava bons crescimentos no PIB, enquanto que as carências em infraestrutura foram se multiplicando. O empresário preparou projetos da maior importância para o Brasil, sempre com a letra X em seu nome, agrupados numa holding igualmente identificada. Era a mãe EBX e suas filhas: LLX (logística), MMX (mineração), MPX (energia), e OGX (petróleo).
Com planos de negócios ambiciosos, buscou o apoio na iniciativa privada, de grandes e pequenos investidores que quisessem aderir à sua empreitada. Usando a força de sua imagem de sucesso e estratégias de marketing pessoal que o transformaram em uma celebridade, tornou-se o mais importante empresário brasileiro. Suas empresas, igualmente midiáticas, foram o sucesso da Bolsa em 2009. Nesse período, a LLX teve suas ações valorizadas em 500%; a MMX, em 345,8%; a MPX, em 249%; e a OGX, em 208%.
Mas algo deu errado e as coisas não saíram como o planejado. Vieram a crise financeira, imprevistos na construção das obras de engenharia, um poço de petróleo que não apresentou a performance esperada. Foi quando vários sócios preferiram abandonar o barco e vender suas ações, fazendo o preço desabar nas bolsas. Nessa fuga, todos perderam. Eike Batista viu seu patrimônio derreter e 99% de seus ativos simplesmente desaparecerem em 2013.
A primeira lição — velha conhecida de todos — ficou para os investidores em Bolsa de Valores. Não se deve apostar todas as suas fichas em um negócio, por mais promissor ou certo que ele possa parecer. É preciso diversificar o portfólio e investir esperando apenas retorno a longo prazo.
Outro ensinamento importante: os planos de negócios devem ser vistos apenas como planos, e não como certezas. Não se deve esquecer de que: (1) O investimento planejado ainda está em projeto. (2) O cronograma de obras é uma previsão do que será executado no tempo. (3) As receitas futuras são apenas estimativas, da mesma forma que os custos e as despesas. Não existem certezas absolutas.
Planos de negócios, vale repetir, não são certezas — nem mesmo os pequenos. Ninguém constrói uma casa sabendo exatamente quanto vai gastar nem em quantos dias vai terminá-la. Porém, deve-se iniciar a construção com um bom projeto, pois eles tendem a ser mais confiáveis e eficientes. Um bom plano de negócio deve conter estimativas conservadoras, de modo que os percalços que porventura ocorram possam ser superados com relativa facilidade.
Adotar alguns cuidados simples e manter sob controle o entusiasmo e a ansiedade em botar o novo negócio para rodar evitaria que muitos empreendimentos fechassem antes mesmo de abrir. Pode ser que não se consiga acertar o ponto “X” com exatidão, mas pode-se chegar ao “Y” com uma equação de fácil resolução.