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“Ouriços” e “Raposas”

Focar a estratégia da empresa em um único objetivo ou apostar na diversidade? Perceber qual é o estilo do negócio ajuda a dimensioná-lo e a gerenciá-lo melhor.
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Publicado em 27.04.2013 - Edição 760
Um antigo poeta grego, Arquíloco, inspirou o filósofo britânico Sir Isaiah Berlin (1909–1997), num ensaio sobre o escritor Tolstoi, a teorizar que no mundo haveria dois grandes tipos de personalidade: os “ouriços” (em algumas traduções, do original inglês, ocorre também o termo porco-espinho) e as “raposas”. O aforismo do grego diz que “a raposa sabe muitas coisas, mas o ouriço sabe uma coisa muito importante”. Noutras palavras, “ouriços” têm a capacidade de se concentrar num único objetivo, de ter foco, ao contrário das astuciosas “raposas”, que são pluralistas pela própria índole.
 
Hoje popularizada, essa visão de Berlin também transbordou para o universo corporativo e profissional. Perceber os outros e/ou a si mesmo como “ouriço” ou “raposa” ajudaria não só a dimensionar os próprios negócios, como a gerenciá-los melhor; contribuiria ainda para compreender concorrentes, personalidades, estratégias de marketing e formas de liderança. 
 
Você que me lê é “raposa” ou é “ouriço”? E a sua empresa seria um empreendimento do tipo “ouriço” ou “raposa”? Lembre-se de que a “raposa” olha e fareja em várias direções, e é desse olhar e desse farejar que se alimenta e se enriquece. Já o “ouriço” — como diz outra versão do original grego de Arquíloco — “sabe de uma coisa muito especial”. “Ouriços” têm a facilidade de saber que são muito bons em uma única coisa, deixando todo o resto numa posição periférica e secundária.
 
É claro que, como qualquer categorização abrangente, a divisão do mundo entre “ouriços” e “raposas” pode soar simplificadora, mas isso não impede, se bem contextualizada na prática, de ter um rico valor instrumental. Note-se que já houve quem dissesse que a humanidade se dividiria entre platônicos e aristotélicos... Para alguns estudiosos, como o renomado consultor e professor americano Jim Collins, em seu bem fundamentado livro Feitas para vencer — sobre empresas que se destacam pela excelência —, parece não haver dúvida de que o sucesso na liderança empresarial vem predominantemente cabendo aos “ouriços”. Sem serem simplistas, eles têm a capacidade de se fixar numa única ideia que tudo ilumina e para a qual tudo parece convergir. “Simples assim”, afirmará qualquer “ouriço”!...
 
Quanto às “raposas”... Bem, a meu ver, tudo indica que elas são bem mais numerosas que os “ouriços” e que preferem um “cardápio” variado que atenda à sua fome de pluralidade e à sua consciência de que o mundo não é tão simples como pensam os “ouriços”. As “raposas” são fãs da diversidade, fazem “isso e aquilo” (a exemplo de produtos e serviços tão diferentes oferecidos pela mesma empresa!...), pois, como diz o próprio Berlin, elas “buscam muitos fins” e “nutrem ideias centrífugas em vez de centrípetas”. Enfim, sua sagacidade está a serviço de múltiplas tarefas e variados objetivos. Nada mau num mundo complexo e segmentado como o que vivemos. No universo dos negócios, talvez olhem com desdém para o monocórdico trabalho dos “ouriços”...

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