Coluna

|Gestão de Negócios - Planejamento - Tânia Bacela

Coluna

|Gestão de Negócios - Planejamento

Veja por autor

O Nordeste Estará Fora do Jogo Depois da Copa?

Apesar dos avanços e dos investimentos que dinamizaram a economia da Região, a tendência, mais a longo prazo, de um novo ciclo de concentração da base produtiva no Sudeste deve servir de alerta.
whatsapp linkedin
Publicado em Fri Jul 27 23:04:00 UTC 2012 - Edição 721

          O Nordeste, por várias razões, entrou bem em campo no início do século XXI. A primeira se associa aos avanços das políticas sociais e à elevação real do salário mínimo. Mais renda, junto com crédito farto e bem escalonado, associado ao emprego em crescimento, estimulou o consumo popular na Região de forma nunca vista. O consumo dinâmico mexeu com as frágeis economias dos pequenos municípios e ativou as bases produtivas dos médios e grandes municípios, atraindo investimentos privados, sobretudo nos setores ligados ao consumo das famílias. 

          Ao mesmo tempo, uma nova onda de investimentos (especialmente via Petrobras e PAC) trouxe projetos de peso e estruturadores de um novo momento da economia regional e despertou seu potencial latente. A Copa trouxe investimentos em várias de suas capitais. O resultado é que o Nordeste parece inebriado... O jogo o favorecia. Mas, quando se olha um horizonte de mais longo prazo, observam-se tendências preocupantes. 
          Um dado inicial é a conjuntura mundial, muito mais desafiadora e difícil que a que vigorou nos anos iniciais do século XXI. Por seu turno, os impactos adicionais esperados das políticas sociais e da política de reajuste do salário mínimo (mesmo com a prioridade do Brasil sem Miséria) devem ser menores que os observados na fase anterior. Além disso, os investimentos públicos mais relevantes para o Nordeste enfrentam grandes dificuldades de execução nos vários níveis de governo.
          Paralelamente, algumas ameaças podem ser identificadas. A primeira nos remete ao debate sobre as reais dificuldades da continuidade da industrialização do País. Acontece que o mais ameaçado é o parque industrial, produtor de bens de mais alto valor agregado e maior conteúdo tecnológico, e ele está fortemente concentrado no Sudeste/Sul, tanto que o “Brasil Maior” deixa o Nordeste à margem das medidas principais. 
          De seu lado, a exploração do petróleo no pré-sal (localizada na costa das regiões Sudeste/Sul), pelo marco regulatório corretamente definido, será um dos elementos-chave da promoção da indústria no País nas próximas décadas (tanto que o setor de P&G já lidera os investimentos industriais brasileiros). Mas o núcleo central da cadeia produtiva de fornecedores que ele mobilizará (setores eletrometal-mecânicos) também está fortemente concentrado no Sudeste/Sul. O Brasil tem, assim, no novo momento da política do setor de P&G, uma cunha no modesto movimento de desconcentração industrial que beneficiava o Nordeste. Nesse contexto, três refinarias é muito pouco...
          Outro exemplo é o da indústria automotiva, cuja importância está ligada ao seu poder de difusão de dinamismo. Ela tem anunciado que quer investir mais de R$ 33 bilhões no Brasil nesta década, mas já se encontra fortemente concentrada no Sudeste/Sul do País, onde existem melhores condições de competitividade. Se a decisão de localização for entregue apenas ao mercado, a concentração espacial dos novos investimentos será inevitável. O recente anúncio da Volkswagen de não vir para o Nordeste e ampliar sua fábrica de Taubaté aponta para essa tendência. Mesmo assim, o novo marco do setor automotivo não tratou da dimensão regional desses investimentos... 
          Por seu turno, a petroquímica anuncia investimentos de R$ 23 bilhões, dos quais apenas R$ 1,6 bilhão será no Nordeste (em Suape), enquanto o avanço da produção de etanol se dá concentrado em São Paulo e em parte do Centro-Oeste. O Nordeste perde seguidamente peso na produção nacional desse combustível, e esta é a tendência futura. 
          Os exemplos acima sinalizam para a possibilidade de os próximos anos ficarem na história econômica do Brasil como um novo momento de concentração da base produtiva nacional, rompendo a tendência à modesta desconcentração regional que se observava desde os tempos do II PND e que foi impulsionada na década anterior, beneficiando o Nordeste.   
          Estes são sinais de alerta. A Região continua exibindo hiato inaceitável: tem quase 28% da população do Brasil e gera pouco mais que 13% do PIB do País. Não há outro exemplo na nação de hiato tão gritante... E, depois da Copa, podemos estar fora do jogo... 
 

Rede Gestão