Coluna

|Gestão de Negócios - Planejamento - Paulo Gustavo

Coluna

|Gestão de Negócios - Planejamento

Veja por autor

Advogando pelo Diabo!

O risco e sua probabilidade devem ser levados em consideração no planejamento e na construção de cenários.
whatsapp linkedin
Publicado em 02.05.2010 - Edição 604
          A história sociocultural do Brasil talvez explique por que muita gente só costuma pensar num Plano A. Risca-se, com isso, o risco, a probabilidade (aliás real, como aponta a Teoria da Aleatoriedade) da ocorrência de um evento diferente do previsto e que, simplificadamente, pode-se chamar de “erro”. Temos, os brasileiros — e, dentre nós, até mesmo os considerados mais profissionais —, uma espécie de crença de que tudo dará automaticamente certo. Qualquer tentativa em sentido contrário (“Mas e se não der certo? E se...”) é logo vista com o viés da antipatia e de um descabido pessimismo. Mesmo em reuniões ditas profissionais, os “advogados do diabo” (e poderíamos dizer “dos riscos”!), excetuados naturalmente os costumeiros espíritos de porco, não são bem-vindos, como se fossem agourentas aves de azar. Ocorre que é o azar, o acaso, que está vital e matematicamente em jogo, como recentemente vem nos lembrar, com brilhantismo, o livro O andar do bêbado, de autoria do físico americano Leonard Mlodinow.
          “Quem tem um não tem nenhum” — diz um dito popular com sábia intuição, numa espécie de contrapartida à crença mágica de se acertar o alvo com uma única bala, a exemplo do que se pretendeu, em passado recente, com certo plano econômico. Nesse sentido, quem tem um Plano A ainda não tem plano algum. Quem não leva em consideração o risco e sua probabilidade ainda patina na falta de profissionalismo. É como não ter “cartas na manga”, abrindo um flanco para o perigo de ser desapontado. Ora, dessa forma, se aprenderá na prática a falta que faz um bom planejamento. Um planejamento que inclua a gestão do risco, que tenha mecanismos que possibilitem um certo controle sobre o futuro, o que na prática é o horizonte imaginativo para se deparar com alternativas de resultado que não são exatamente as esperadas. É de se observar que se mesmo com planejamento as coisas falham ou enveredam por caminhos inesperados, o que dizer quando de saída não nos preocupamos em planejar? Ficamos nas mãos poderosas do acaso e do aleatório. Nem por isso o planejamento é uma poção mágica que afasta todos os riscos ou que, como a poção de Astérix, nos dá um poder paranormal em face das surpresas da realidade.
          A propósito, vale lembrar que o escritor francês Marcel Proust escreveu que “a realidade é a mais hábil das inimigas” porque “nos atinge por onde menos esperamos”. Nesse ponto, os antigos também foram sábios: a Fortuna, para o bem ou para o mal, preside o destino. Não sem motivo, nos parece, só aos poucos a matemática foi compreendendo melhor o acaso e suas ocultas leis. Mas a presença do acaso não diminui nossa responsabilidade, antes parece aumentá-la se de fato queremos ter competência em gestão, negócios e na nossa vida pessoal e profissional. Sim, a sorte (outro nome do acaso?) de fato existe, mas não podemos adivinhá-la, apenas podemos tê-la ou não tê-la: sendo arisca, contar com ela de uma forma mágica é a rigor uma temeridade, uma inconsequência.
          Abstraindo a sorte — esse imprevisível e impalpável lance dos deuses a nosso favor —, só nos resta planejar bem e gerenciar os riscos. Para a sorte, só podemos usar o verbo no passado: “Tive sorte!”; “Foi sorte!”. Nunca se poderá dizer: “Terei sorte”! Então, só nos resta, sempre que possível, ampliar nossas alternativas em função de possíveis cenários e, assim, temos que ter um Plano B, um C, um D, conforme o grau de perigo e de acaso que se possa vislumbrar. Para tanto, há que haver prudência — no plano ético — e, claro, imaginação e alguma matemática. Provavelmente, as chances de êxito aumentarão bastante.

Rede Gestão