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No Planejamento, é a Realidade que Fortalece o Sonho
Empreender sem planejar, ancorado apenas no “desejo de dar certo”, é uma atitude impensável em um mercado cada vez mais competitivo. Publicado em 10.05.2009 - Edição 553 Na nossa experiência de consultoria, observamos com muita frequência uma forte resistência ao planejamento das ações. Empreendedores e gestores, independentemente de sua formação, apresentam grande tendência para agir no impulso, buscando o atendimento aos seus desejos de forma imediata e a qualquer preço.
O psicanalista francês Charles Melman, em seu livro O Homem sem Gravidade, fala sobre esse imediatismo, muitas vezes nocivo, que caracteriza a sociedade atual. Diz ele: “O bem-estar subjetivo já não se origina mais da harmonia com o ideal de cada um, mas do objeto que possa trazer satisfação. Não há limites”.
Não só no campo pessoal, mas também no âmbito da gestão, a antecipação ou o imediatismo da realização do desejo traz satisfação no presente, mas fragiliza e torna o futuro inseguro.
Ao dispor de um capital ou ao vislumbrar a possibilidade para iniciar um negócio, a ansiedade e o pensamento mágico são conselheiros desastrosos. Independentemente do porte do negócio, empreender sem planejar, deixando a estratégia a cargo do talento natural ou do feeling, são atitudes incompatíveis em um mercado cada vez mais competitivo e exigente. Pior que isso, são fatores invariavelmente presentes em histórias de insucesso e fracassos.
Para empreender ou investir, é essencial desenhar o cenário, realizar uma análise crítica da realidade, uma avaliação das reais condições externas do mercado onde a empresa deverá ser instalada e das condições internas relacionadas ao próprio negócio. É preciso definir uma estratégia de ação clara que direcione o rumo a seguir em busca dos resultados desejados.
Essa análise permite ao empreendedor compreender a realidade com maior clareza. Enquadra os limites e, muitas vezes, torna evidente impossibilidades que, quando se está movido pelo impulso, muitas vezes passam despercebidas.
Lidar com o limite, porém, é lidar com a falta, o que muitas vezes é insuportável para algumas pessoas. Não é fácil para o homem — na sociedade de Melman, aquele que espera sempre a satisfação plena e imediata dos seus desejos e necessidades — enfrentar os limites impostos aos seus sonhos. Desejo e realidade não são fáceis de serem harmonizados.
A resistência a qualquer tipo de limite dificulta e restringe, na maioria das vezes, a possibilidade de sucesso. Mas é uma situação comumente observada no dia a dia do ambiente de negócios: pôr em prática um projeto baseado no sonho, preterindo ou eliminando uma corajosa e necessária análise da realidade.
O desejo e o sonho são elementos essenciais ao escopo de qualquer projeto, mas precisam, sempre, estar ancorados na realidade. O Planejamento Estratégico é o principal e mais eficiente instrumento de apoio à empresa que deseja enfrentar o grande desafio atual da competitividade. É a bússola que irá conduzir a empresa por um cenário na maioria das vezes difícil e exigente, onde vontade e dedicação não são mais suficientes para cumprir a jornada. Planejar — pondo em prática e monitorando a execução desse planejamento — é uma condição essencial para transformar o sonho em realidade.