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"Cidadania Empresarial: a Ética nas Organizações"

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Publicado em 30.12.2001 - Edição 171

"Nada existe que não tenha alguma conseqüência" (Espinosa apud Srour, 1994). A existência de uma empresa não deve ser pensada apenas em função de seu potencial de lucros. Há que existir a consciência de que ela está inserida num sistema social. Logo, ao se pensar a existência de uma empresa socialmente responsável, deve-se fazê-lo tendo em vista os impactos desta sobre esse sistema.

 

Segundo Ashley et al. (2000), "cidadania empresarial seria a extensão pela qual as organizações atendem às suas responsabilidades econômicas, legais, éticas e discricionárias, exigida por seus diversos stakeholders". Esta cidadania não se verifica apenas em projetos socialmente responsáveis, mas através de um comportamento ético que permeie todos os processos decisórios da empresa.

 

De acordo com as constatações de Patrícia Ashley, a cidadania empresarial pode ser entendida como uma matriz que contempla basicamente quatro aspectos: o legal, o econômico, o ético e, finalmente, o auxílio à sociedade, colaborando com desenvolvimento sustentado da própria sociedade e manutenção das condições necessárias à vida (meio ambiente).

 

Um olhar crítico sobre o assunto há de concluir que o cerne da discussão sobre responsabilidade social corporativa e cidadania empresarial gira em torno da preponderância do fator ética sobre os demais. A ética é o pressuposto primeiro quando se imagina uma empresa cidadã. É sentir-se co-responsável pelos problemas da sociedade. Por definição, todas as empresas deveriam ser lucrativas e obedecer às leis. O compromisso ético, como diria Ashley, é que a faz transcender o econômico/legal.

 

A empresa cidadã deve possuir objetivos sociais e instrumentos sociais, os quais não devem se confundir com práticas comerciais e/ou objetivos econômicos (Ashley, 2000). Numa empresa-cidadã não existe a separação entre o planejamento estratégico e as políticas sociais. O social é uma variável indispensável para a concepção da estratégia. Muito diferente das ações assistenciais de algumas organizações cujo objetivo principal é se locupletar dos necessitados — um caso típico é o da empresa que gasta mais anunciando o que vai realizar do que efetivamente realizando uma ação social.

 

Por fim, uma empresa que incorpore estas mudanças não poderia ser considerada de todo cidadã. Falta ainda o fator prático, o resultado do processo de mudança, a resposta da empresa às desigualdades presentes na sociedade. Iniciativas corriqueiras compreendem, mas não se restringem a: incentivos à educação (quer seja construindo uma escola, auxiliando com recursos materiais/financeiros ou mesmo cedendo profissionais para que trabalhem assuntos específicos com os alunos), fortalecimento da cidadania/auto-estima, programas de revitalização do ambiente urbano, conservação de áreas de vegetação nativa, preservação da cultura local/regional, entre outros. Em suma, a empresa-cidadã retribui à sociedade com filantropia, não de forma paternalista, mas tendo em vista o desenvolvimento sustentado como solução maior para a problemática enfrentada por esta mesma sociedade.


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