Veja por autor
Estágio, o que há num nome?
Fase em que o estudante começa a ter contato com o lado profissional da carreira escolhida, o estágio não deve ser encarado como uma opção de mão de obra barata. Publicado em 14.02.2016 - Edição 906Se há uma palavra que circula com frequência entre as faculdades e as empresas e instituições, esta palavra é estágio. Da parte dos estudantes, o estágio é geralmente o começo do sonho de se firmar na vida profissional e adulta, além de uma forma de ganhar alguma independência financeira. Já da parte das empresas e das instituições, é a oportunidade de exercerem seu lado pedagógico, promovendo a integração da juventude a um patrimônio de expertises e conhecimentos e, claro, ficando de olho nos talentos a serem eventualmente incorporados à sua força de trabalho.
Por uma dessas distorções tão comuns no Brasil, imantaram à figura do estagiário um caráter pitoresco e caricato que oscila entre a imagem do bode expiatório ― pivô ou álibi de erros e culpas ― e a do burrinho de carga sobrecarregado de tarefas alheias. Também difundiu-se a ideia de mão de obra barata, capaz de suprir as necessidades mais diversas em não menos diversos desvios de função. Tais equívocos, evidentemente, não apequenam apenas os estudantes, apequenam — ainda mais — as próprias empresas, ou seja, revelam sua ganância, suas carências, sua desorganização, seu deformado ou ausente estilo de gestão de pessoas.
Para garantir um melhor equilíbrio na relação entre estudantes e empresas, estas últimas precisam estabelecer, de forma clara, um consistente programa de estágio, no qual critérios e processos de seleção, responsabilidades, valores, direitos e deveres fiquem bem explícitos. E, por mais que haja um caráter transitório na relação, é preciso fazer valer a qualidade dos vínculos de parte a parte. Até porque é dessa relação que podem nascer laços mais amplos e duradouros para o crescimento de ambos os lados envolvidos. Como quer que seja, o estudante deve ser objeto de respeito e mérito, um “cidadão” da empresa, e não uma figura menor e marginal.
Da parte dos estagiários, é preciso a consciência de que imergem num mundo ainda desconhecido, que só pouco a pouco se revela. É preciso entrar num novo ritmo e, com discrição, sondar que atitudes são esperadas e estimuladas. Como diz o lugar-comum, é hora de ganhar experiência, de se fazer útil, de mostrar serviço e naturalmente de observar, na prática, o que a teoria acadêmica abordou e discutiu em livros e salas de aula.
Finalmente, uma dica: vestir a camisa da empresa e calçar as sandálias da humildade. Além de aprendizado, dedicação e sintonia, as empresas esperam um comportamento emocional condizente com a vida corporativa. Assim você, estudante, aprenderá que é preciso servir sem ser serviçal, dar tempo ao tempo, deixar-se amadurecer. Um dia verá que na palavra estágio coube muito mais que um sonho de principiante ou um meio legal de ganhar sua primeira grana.