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Descompasso entre Universidade e Mercado

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Publicado em 16.04.2006 - Edição 393
O núcleo de pesquisas do Observatório Universitário da Universidade Candido Mendes, do Rio de Janeiro, realizou um estudo inédito que aborda dois aspectos importantes da relação entre cursos superiores e mercado de trabalho: a crença na soberania do mercado enquanto determinante do sucesso profissional e retorno financeiro satisfatório e a desproporcional oferta de determinados cursos superiores, desvinculada da demanda do mercado de trabalho e da necessidade deles para o desenvolvimento do País.

Administração de Empresas e Direito são cursos que lideram o ranking brasileiro em número de alunos matriculados, correspondendo ao percentual aproximado de 30% do universo dos estudantes do Ensino Superior. No entanto, a pesquisa demonstra alto índice de desemprego entre os graduados. Do total de 665.409 bacharéis em Direito registrados pelo Censo 2000 do IBGE, 25% não estavam trabalhando. Entre aqueles que trabalhavam, apenas 51,3% atuavam na área. Os dados evidenciam, ainda, a precariedade da formação da maioria dos concluintes e a elevada concorrência entre os profissionais.

No último exame realizado pela OAB de São Paulo — onde estão 23% do total de cursos de Direito do País —, dos 18 mil inscritos, apenas 18,3% foram aprovados. No Brasil, há um advogado atuante para cada 398 habitantes. Proporção superior à da maioria dos países europeus. Na França, existe um advogado para 1.460 habitantes. Na Alemanha, um para 680; e, na Itália, um para 444.

Para os jovens e seus pais, o curso de Direito representa garantia de emprego e de retorno financeiro. É inegável que a globalização, o exercício da democracia e a consciência dos direitos do cidadão ampliaram os espaços de atuação desse profissional. Mas é preciso não desconsiderar o fato de que, para ter êxito em Direito — ou em qualquer profissão —, é fundamental haver identificação. Além de, especialmente no caso dessa profissão, serem necessários anos de investimento sem retorno financeiro imediato e adoção de estratégias eficazes para fazer frente à concorrência. Priorizar apenas o mercado de trabalho, portanto, pode ser uma armadilha. Entre os graduados em Administração de Empresas, a realidade não é diferente. Dos 651.310 concluintes, também contados pelo Censo 2000 do IBGE, 20% não estavam trabalhando.

O caso do Brasil é muito significativo. Enquanto os jovens correm para as Ciências Humanas, existe escassez de especialistas no campo das engenharias e das Ciências Naturais, nas quais se encontram apenas 7,6% dos estudantes universitários. Nos trinta países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), esse percentual é de 15,5%, segundo Roberto Lobo, consultor em gestão educacional e ex-reitor da USP.

É verdade que o ambiente político-econômico do País, nas últimas décadas, não tem sido acolhedor para os profissionais dessas áreas. O baixo investimento em infra-estrutura produziu retração do mercado para os engenheiros. Do mesmo modo que a redução de verbas para as universidades, principal celeiro de desenvolvimento de pesquisa do País, inibiu a procura pelas Ciências Naturais.

Essa situação evidencia a ineficiência do modelo do desenvolvimento nacional, especialmente no que se refere à necessária vinculação entre o planejamento estratégico do País e a educação. Apesar dessa realidade, algumas ações podem indicar mudanças. A liberação de recursos feita pelos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Saúde, destinadas ao investimento em pesquisas como as das células-tronco, incrementará a formação de pesquisadores e de cientistas.

Em Pernambuco, por exemplo, os projetos estruturais da  refinaria de petróleo e do estaleiro naval da Camargo Corrêa, entre outros planejados, como o pólo de poliéster, a retomada da Transnordestina e a transposição do São Francisco, todos  expandirão o mercado para as engenharias e áreas técnicas afins.

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