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Crise? O brasileiro sabe jogar
Os mais jovens não estão acostumados, mas os experientes já passaram por outros momentos complicados na nossa economia. Publicado em 01.03.2015 - Edição 856A economia é como se fosse um jogo de futebol sem intervalo em que os jogadores vão e vêm e, no máximo, a bola se desgasta e tem que ser trocada quando começa a murchar, ou seja, quando começa uma crise. Contudo, sem nunca parar, o jogo é mais interessante com a bola cheia. É engraçado porque os jogadores são torcedores, vice-versa, e se misturam. Com todo mundo jogando, o técnico e seu capitão podem fazer o jogo ficar feio.
Nos últimos meses está se falando muito em crise, em jogo feio. Para os brasileiros com um pouco mais de idade, isso não é novidade, pois já viram muitos pacotes, como bolas, furarem. Os mais jovens, os que entraram em campo nos últimos 12 anos, não estão acostumados a jogar com bola murcha, pois a última grande crise foi em 2002, na passagem de FHC para Lula. Aí, esse técnico colocou bola nova em campo e um time puxado por Palocci. Mais adiante, em 2008, quando a grande crise econômica mundial se aproximou do Brasil, o técnico Lula novamente colocou outra bola nova em campo, chamando a bola do consumo e pedindo aos jogadores para chutar pra frente.
Dilma não tinha colocado bola nova em campo e estava sem saber animar o time. A bola que vinha rolando desde 2008 se desgastou e estava murchando. Até agora, está parecendo que ela não é uma boa técnica, mas isso só se conseguirá ver mesmo no placar final, lá na frente. De toda sorte, para começar o segundo tempo, ela colocou em campo um novo capitão, Joaquim Levy, e a maioria dos torcedores jogadores está gostando.
No jogo da economia, quem está como capitão tem mais importância, mas vale mesmo é todo mundo continuar jogando, mesmo com bola murcha. Não se pode parar, não existe esse negócio de crise. Todo mundo continua comendo, se vestindo, casando, tendo filho, adoecendo, se curando e lá vai. Quem para é porque está morto e vai ser tirado de campo. Fazer corpo mole também não é legal. É necessário encontrar uma estratégia própria para continuar na parada.
Nesses momentos em que o jogo está mais difícil, é que precisa entrar a famosa inventividade do brasileiro. O que aconteceu contra a Alemanha é para ser esquecido. Foi outra coisa, e o jogo agora tem que mudar. Como a vida, a economia não para e a cultura psicológica da torcida jogadora faz a diferença. É dentro das regras encontrar espaço, fazer a sua parte e continuar vivo no jogo.