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Investimentos de Impacto
Publicado em 28.09.2012 - Edição 730 Um número crescente de investidores, incluindo fundos de investimentos, bancos comerciais, fundações privadas e family offices, destina recursos aos chamados investimentos de impacto (do inglês impact investing). Trata-se de uma classe emergente de ativos financeiros com a característica principal de buscar o retorno financeiro atrelado ao impacto social — ou no meio ambiente — positivo.
Esses investimentos buscam firmar o espaço ainda não mapeado entre a filantropia tradicional e a pura busca pela maximização dos lucros. Significa trazer para a luta contra o subdesenvolvimento as ferramentas de um setor privado criativo, inovador e sustentável a longo prazo.
Não é conversa pra boi dormir nem ingenuidade de uma minoria de sonhadores. O Morgan Stanley, banco de investimentos sediado em Nova York, lançou em abril deste ano uma plataforma de investimentos especialmente dedicada a investidores que querem como resultado “valor e valores”. Os investimentos são cuidadosamente analisados para identificar oportunidades de impacto positivo, atrelado a retorno financeiro compatível com o grau de risco e de impacto. A instituição financeira J.P. Morgan, junto à Fundação Rockefeller, estima em relatório publicado em dezembro de 2010 que a classe emergente de ativos tem potencial para receber investimentos de até US$ 1 trilhão nos próximos dez anos.
Vale a distinção entre investimentos de impacto e investimentos socialmente responsáveis, sendo o último um campo mais amadurecido. Enquanto os investimentos socialmente responsáveis buscam minimizar impactos negativos — como, para citar um exemplo, não investir em atividades que possam causar danos irreversíveis ao meio ambiente —, os investimentos de impacto buscam proativamente causar impacto positivo.
Mas o que muda, por exemplo, da análise de um investimento tradicional para a análise de um investimento de impacto? Na forma, praticamente nada. Os investidores, continuam a analisar rigorosamente o modelo de negócios, o potencial de mercado, a capacidade dos gestores, os mecanismos de governança e os riscos envolvidos. A essência, no entanto, é outra. Há um desvio de foco. Os incentivos são redesenhados, e os executivos passam a medir e buscar ativamente mais do que o máximo retorno financeiro para os investidores. Eles precisam entregar uma proposta de valor mais ampla.
Os fundos de investimentos de impacto estão crescendo em número e se consolidando, mesmo em meio ao frágil momento da economia global. Os pioneiros foram o Acumen Fund, hoje com escritórios em Nova York, Índia, Quênia e Paquistão; Root Capital, com foco na América Latina e África; e o fundo indiano Aavishkaar. Um caso de sucesso frequentemente citado é o do fundo mexicano IGNIA, fundado pelo professor sênior da Escola de Negócios de Harvard Michael Chu. O Brasil também já tem sua empresa de capital de risco voltada exclusivamente para investimentos de impacto, a Vox Capital, sediada em São Paulo e que busca, através das empresas investidas, “contribuir para o surgimento e crescimento de um polo brasileiro de negócios com impacto social, lucrativos e de grande escala, capaz de atrair talentos, inovação e investimentos nacionais e internacionais”.
Temos um longo caminho a percorrer e ajustes no modelo a fazer para que o ecossistema de investimentos de impacto se consolide. Há bastante discussão, por exemplo, sobre se é necessário que os investidores aceitem menor retorno financeiro para que tenham o retorno social. Um importante passo que está sendo dado para essa consolidação do modelo é o esforço para desenvolver métricas claras e objetivas para impacto social.
É uma alternativa que traz muito entusiasmo ao mundo dos negócios, sendo coerente inclusive com os desejos dos jovens qualificados que entram hoje no mercado de trabalho e exigem mais de seus empregadores do que um alto salário. Vale apostar e fazer com que as forças de mercado trabalhem a favor do desenvolvimento socioeconômico.