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Frevo – Patrimônio da Humanidade

Apesar de encher os pernambucanos de orgulho, o título não garante a preservação do frevo no nosso cotidiano nem a transferência para as próximas gerações.
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Publicado em Fri Feb 08 19:31:00 UTC 2013 - Edição 749

O orgulho pernambucano é algo a ser estudado. Temos orgulho de tudo o que edificamos, fazemos, realizamos, ainda que não saibamos a sua origem, a sua finalidade ou mesmo o que representa. Pois chegou a hora do orgulho pernambucano sobre o frevo.

Reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco, o frevo pernambucano passa a ser registrado como um dos tesouros a serem preservados para as gerações futuras usufruírem. É algo importante e que enche de orgulho o cidadão pernambucano-brasileiro.
 
Tão importante quanto esse título é acreditar que esse registro de nada garante a existência e a permanência da cultura frevística no nosso cotidiano para os próximos séculos. Vivemos a intensa cultura frevística durante os meses momescos e nada mais. Não temos renovação, não temos divulgação, não temos registros, não temos ação educativa, não temos contraciclos culturais, não temos provocações a releituras nem honramos nossos heróis criadores. Exaltamos o bom e velho passado. Cantamos as mesmas músicas, dançamos o frevo com os dedinhos levantados e transferimos esse padrão cultural de consumo à geração seguinte, que tem todo o direito de não gostar tanto assim desse frevo ou de qualquer outro...
 
A nossa geração precisa beber do passado (para se orgulhar), criar no presente (para contribuir) e transferir para o futuro (para perpetuar) para uma nova geração. Estamos perdendo a oportunidade de renovar esse ciclo. O frevo é complexo, precisa ser estudado na sua plenitude. Precisa ser registrado. Precisa ser cantado. Precisa ser tocado, regido, dançado. A escola, o museu, o rádio, a televisão, o cinema, a Internet são algumas das ferramentas de salvaguarda desse patrimônio de todos os pernambucanos. Temos que romper esse ciclo não criativo que perdura, estereotipado pelos hinos fundadores dos grandes blocos que já não existem mais. 
 
Longa vida aos que continuam teimando em criar um frevo novo! É deles a honra em dizer “Eu contribuí para a perpetuação da minha cultura”. No mundo da imaterialidade, só perdura o que se usa; só se usa o que se conhece e só se conhece o que se aprende. Por analogia, temos, no mundo do patrimônio, uma outra máxima: só se tomba aquilo que deve ser protegido; só se protege aquilo que se ama, só se ama aquilo que se conhece e só se conhece aquilo que se aprende. 

O que estou fazendo para garantir a salvaguarda do meu patrimônio cultural? Eu levo meu filho ao museu? Eu brinco o carnaval com o meu filho? Eu escuto frevo em casa? No rádio? Eu sei dançar frevo (qualquer dos tipos)? Cantar frevo (qualquer dos tipos)? Se a resposta é não, lembre-se de que o registro em nada ajuda sem a prática existir. Que venha mais um Carnaval! 


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