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Muito Além do Jardim

Intervenções em qualquer espaço externo devem interagir com os ecossistemas naturais e urbanos.
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Publicado em Sun Apr 26 20:12:00 UTC 2009 - Edição 551
          Paisagismo é percebido, por boa parte da população, apenas como o jardim florido que ornamenta a edificação. Muitas vezes, a vegetação é distribuída aleatoriamente, de acordo com a aparência decorativa da planta, sem conceito de associação, crescimento e hábitat da vegetação especificada.
          A arquitetura paisagística atua no espaço aberto, com todos os fatores físicos, biológicos e culturais envolvidos, e trabalha a modelação do solo, o fluxo das águas e a diversidade da vegetação, resultando em um projeto que propicia identidade ao lugar, economia na obra e harmonia com o meio ambiente.
          A Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap) destaca no site www.abap.org.br que a prática profissional do arquiteto paisagista é bastante ampla, abrangendo desde projetos para proteção e recuperação de áreas naturais e o redesenho de espaços livres em áreas rurais e urbanas a pequenos pátios e quintais residenciais. A intervenção no local de implantação da obra deve ser precedida de estudos, planos e projetos, visando atender às questões funcionais, ambientais e das dimensões estéticas e culturais inerentes à atividade criadora.
          A intervenção no espaço externo, seja num jardim residencial, seja num parque metropolitano, deve interagir com os sistemas envolvidos, vivos ou inanimados, que vão orientar a disposição dos diversos equipamentos programados. Mas é a conceituação e o traçado da composição paisagística que vão conceder ou não o status quo de obra de arte.
          Como exemplos de intervenção sistemática e artística ao longo dos últimos séculos, podemos citar: (1) no século 18, o paisagismo rural em Blenhaim, de Sir Lancelot Brown, perto de Oxford, Inglaterra, em que o uso de vegetação nativa, pasto e acúmulo de água, baseado numa ecologia empírica, resultou em bela e vibrante paisagem; (2) no século 19, o Central Park, de Frederick Law Olmsted, em Nova York (EUA), em que os conceitos dos jardins românticos ingleses foram usados numa escala urbana a serviço da coletividade, propiciando lazer, áreas verdes e espaços abertos; (3) no século 20, o Aterro do Flamengo, de Roberto Burle Marx, no Rio de Janeiro, onde o paisagismo moderno atinge um clímax na escala urbana; e (4) no século 21, o Bio-Remediation Park, de Mc Gregor+Partners, em Sydney, Austrália, em que o uso de processos de descontaminação do solo e o aproveitamento da infraestrutura de um antigo parque industrial de petróleo resultaram em um novo hábitat, assim como num impressivo aspecto litorâneo.
          Segundo Liat Margolis e Alexander Robison, no livro Living Systems, 2007, “Sistemas vivos redefinem e expandem os limites convencionais da materialidade da paisagem, tanto conceitualmente como profissionalmente. Buscam uma interação entre os campos de paisagismo e a arquitetura, mesclando as funções e relações entre interior e exterior, tais como conforto ambiental e reciclagem da água; entre paisagismo e engenharia, pelo potencial da intervenção paisagística de precaver-se contra enchentes, processos de tratamento de esgotos ou retendo / infiltrando as águas de chuva; entre paisagismo e planejamento urbano e regional; e entre paisagismo e ecologia de conservação e restituição”.
          As intervenções paisagísticas devem sempre procurar ser o mais sustentável possível por meio de uso de vegetação nativa, manejo do solo, adubação orgânica, irrigação com uso de água reciclável, lagoas de retenção das águas pluviais para infiltração nos aquíferos, tratamento biológico das águas servidas, materiais não poluentes e fontes de energia limpas, como solar e eólica. O resultado é uma interferência positiva na paisagem, que interage com o ecossistema urbano ou natural existente, gerando harmonia com as pessoas.

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