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Desejo de Estar na Moda X Restrição de Renda do Consumidor

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Publicado em Sun Feb 27 22:02:00 UTC 2005 - Edição 335

 Os setores ligados ao negócio da moda giram atualmente bilhões de dólares em todo o mundo. Em sua essência, a moda está ligada a um comportamento tipicamente sazonal, na qual as estações do ano seriam o fio condutor na trajetória da chamada "tendência da moda". Nesse contexto, as novas coleções procuram balizar o comportamento dos consumidores ao exibirem um alto grau de volatilidade nas peças de vestuário — notadamente em seus cortes, tipos de tecido e cores. Em outras palavras, a moda depende da capacidade de convencer os consumidores de que aquele sapato cor-de-cereja, que foi comprado há pouquíssimo tempo, deve ir para o armário, e, em seu lugar, deverão adquirir um sapato em tons pastéis, pois, caso contrário, estarão "out". O corolário é que o guarda-roupa dos consumidores, progressivamente, fica abarrotado de peças e acessórios "inúteis".

 

Essa corrida para alterar continuamente as preferências do consumidor é um desafio que o setor enfrenta utilizando agressivas estratégias de marketing. Entretanto, o comportamento do consumidor também é influenciado por outra variável fundamental: a renda. A restrição orçamentária advém do fato de que o consumidor tem rendas limitadas, que restringem a possibilidade de consumo em razão dos preços que precisariam pagar pelos diversos bens e serviços. Atualmente, verifica-se um encolhimento da renda média do brasileiro, resultado das políticas econômicas recessivas. Nesse contexto, o dilema do consumidor torna-se mais difícil: como acompanhar as novas tendências da moda sem pôr em risco o orçamento familiar?

 

Nessa direção, o setor da moda deve incorporar novas estratégias a fim de tentar auxiliar o consumidor na solução desse dilema. Tais estratégias passam necessariamente por reduções de preços sem perda da qualidade, pois, mesmo estando em uma situação restritiva, o consumidor brasileiro aprendeu, após a abertura comercial ocorrida ao longo da década de 90, a valorizar a qualidade dos produtos. Utilização de materiais reciclados, novos materiais, novas tecnologias e maior eficiência na cadeia produtiva são elementos que devem compor esse novo perfil da indústria da moda brasileira, no qual o preço deve ser o mais acessível possível.

 

Em suma, duas forças antagônicas agem sobre o comportamento do consumidor de moda brasileiro: a vontade de estar na moda, acompanhando as novas tendências, e a severa restrição orçamentária por que passa a maior parte das famílias brasileiras. A partir desse antagonismo, as empresas ligadas ao setor de moda deverão encontrar formas criativas para que o desejo imbuído na cabeça do consumidor — de trocar aquele sapato cor-de-cereja comprado há pouco tempo por um sapato em tons pastéis — possa sair do campo do querer e se transformar efetivamente em uma venda. É necessário ter em mente a necessidade de um equilíbrio entre o poder de convencimento do setor de moda em sinalizar o que está fora e dentro da moda e a declinante capacidade de consumo da maioria dos brasileiros.


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