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O Consumidor Nordestino no Supermercado

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Publicado em Sun Sep 19 21:24:00 UTC 2004 - Edição 312

O Nordeste Oriental (Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) é reconhecido pela sua generosa singularidade cultural e por suas características climáticas e geográficas, fatores que atraem visitantes e admiradores do Brasil e do exterior. Suas singularidades econômicas, entretanto, são menos conhecidas até entre nordestinos. Uma dessas singularidades aflorou implícita nos dados de uma pesquisa valiosa, a 32ª publicada pela Revista Supermercado Moderno (SM) (ano 35, nº 6, 2004), do Grupo Lund. Trata-se do Guia Prático de Sortimento (GPS 2 – Mix Marcas). É um trabalho pormenorizado, feito com o envio de 21.884 questionários a supermercadistas de todo o País, selecionados aleatoriamente do cadastro de leitores da SM.

 

A pesquisa mede a opinião qualitativa dos supermercadistas em suas menções das melhores marcas a serem oferecidas num supermercado. Publicação primorosa, a pesquisa elencou a variedade de produtos do setor em 152 grupos específicos disponíveis ao consumidor (excluímos os insumos pesquisados, que não são do interesse deste artigo). Como pressuposto, admitimos que a opinião dos supermercadistas reflete a preferência dos consumidores, a rentabilidade dos artigos e o giro rápido do estoque.

 

Trabalhamos os dados da referida publicação concernentes ao Nordeste (Área I: PE, PB, RN, CE, AL, SE, BA) e chegamos a algumas conclusões: (1ª) a variedade do mix de produtos necessária a supermercados no Nordeste é superior à da maior parte do País, até ultrapassando, em vários casos, regiões centrais como a Grande São Paulo; (2ª) a presença de marcas regionais ou regionalizadas se mantém forte, alcançando boas colocações no ranking da SM, fator que influencia o anterior e mostra o vigor regional de produtos muitas vezes produzidos e desenvolvidos aqui; (3ª) a gestão e o gerenciamento de gôndolas e prateleiras em supermercados no Nordeste devem ser específicos para o atendimento das preferências locais, refletindo-se no amplo mix de produtos exigido pelo consumidor da região, incluindo marcas que se destacam aqui, mas não são fortes em outras áreas.

 

Em 44,73% dos grupos de produtos, o Nordeste tem a maior ou a segunda maior variedade de marcas. Um exemplo entre tantos: oito marcas mencionadas de molho de tomate disputam acirradamente nossas preferências, contra apenas quatro menções significativas na Grande São Paulo e só seis no Sul do País, onde as demais marcas não foram mencionadas ou não estão presentes. Nessas regiões, apenas uma marca do segmento domina de 30% a 49% das menções, o que não ocorre com nenhuma delas aqui.

 

Há fenômenos parecidos em outros conjuntos: sal, refrigerantes sabor “cola”, sucos prontos, concentrados líquidos para limpeza, desodorizadores, xampus, guardanapos, etc. Marcas ressaltadas pelos supermercadistas do Nordeste — como Peixe, Pilar, Mauricéia, Açúcar Estrela, Vale Dourado, São Mateus, Palmeiron, Pitú, São Braz, Maratá, São Domingos, Frevo, Tampico e outras — aparecem pouco ou não aparecem em estados de outras áreas ou regiões.

 

A junção da variedade maior para o mix de marcas com a presença de produtos só expressivos regionalmente demanda uma gestão arguta e competente nas encomendas dos supermercadistas, que não devem repetir aqui — principalmente se a empresa não for nordestina — modelos de compra e estoque que só funcionam plenamente em outras partes do Brasil. Informações específicas como essas aprofundam a compreensão da economia nordestina para gestores e são essenciais para a nossa História Econômica.


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