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Desafio: risco e atratividade

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Publicado em Sun Aug 20 18:50:00 UTC 2000 - Edição 100
Já se tornou um lugar comum, no pensamento estratégico, a descoberta de que a palavra crise, na língua chinesa, é composta por dois ideogramas, um significando ameaça, outro, oportunidade. A genial simplicidade dessa composição de significados pode ser relembrada para entender a riqueza da palavra desafio no contexto da gestão.

Tomando por referência o sentido comum na nossa língua, desafio é sinônimo de provocação ou porfia, remetendo, diretamente, ao ato de desafiar, que significa propor duelo, assim como o efeito de instigar, incitar, estimular, afrontar ou fazer face à. Essa significação, importada para a concepção de gestão estratégica, ao mesmo tempo em que se reproduz, se delimita. Desafio pode ser entendido como um alvo estratégico; aquilo que, na formulação da estratégia organizacional, se define como algo a conquistar, com freqüência para superar uma ameaça do ambiente ou para concretizar uma capacidade que é ainda potencial na organização.

Assim, a noção de desafio na cultura estratégica está estreitamente relacionada a uma atitude básica do que representa ser estratégico - a disposição de construir o futuro desejado, com o que isso envolve de exigência, no sentido de utilizar as próprias forças, aproveitar oportunidades, enfrentar ameaças e superar vulnerabilidades. E sem que essa empreitada se torne uma espécie de missão impossível (como no filme, só realizada por efeitos) ou uma expectativa tirânica de que os integrantes da organização tornem-se super-homens.

Por um lado, desafio é algo de difícil consecução, que envolve um potencial de risco, que pode representar ameaça de fracasso, que põe à prova competências e capacidades e exige superar dificuldades, sejam externas ou internas, além de requerer consciência das próprias vulnerabilidades. Por outro, bancar um desafio significa mobilizar-se para a conquista e para a realização de idéias e de planos. Formular um desafio é projetar capacidades para além do presente, impulsionando a ação, o movimento de construir ou de ser algo diferente, de ocupar um outro espaço.

Essa ambivalência de significados vale para as organizações e para os profissionais que dela fazem parte. Só que, em se tratando de pessoas, entram em jogo sentimentos, desejos, sonhos e inquietações. Assumir desafios é atraente e ameaçador. Pode-se conquistar o desejado, mas há sempre o risco de fracassar. Há que aprender a lidar com isso sem pressão excessiva e sem receios paralisadores. O grande potencial da formulação de desafios, para organizações e para profissionais, é justamente essa balança de significações - o impulso para ousar, a mola propulsora para a busca de conquistar e, ao mesmo tempo, o imperativo de confrontar limites e de admitir que nem tudo é possível. Se dar conta de desafios é algo muito gratificante, falhar em uma conquista ambicionada pode ser sentido como um erro fatal. Todavia, não se morre disso enquanto permanece viva a capacidade de formular novos desafios.

O título escolhido para a coluna (Desafio 21) que chega ao seu número 100 representou a intenção de construir um espaço onde fosse possível criar e experimentar idéias e projetos, trocar e compartilhar experiências relacionadas à gestão, levando em conta o fato de que, para quem trabalha nessa área, desafio é provocação cotidiana, particularmente considerando a realidade atual e as tendências para o novo século, cada dia mais próximo.

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