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500 anos de descobrimento ou invasão?

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Publicado em Sun May 14 18:11:00 UTC 2000 - Edição 86
A historiografia sobre os 500 anos do Descobrimento do Brasil tem avançado muito nos últimos anos, sendo constantemente analisada e questionada pelos historiadores. Os fatos ocorridos na própria data da comemoração oficial ajudam, inclusive, a ressaltar uma abordagem crítica que deixa no ar a pergunta: O Brasil foi, mesmo, "descoberto" ou será que não teria sido "invadido" pelos portugueses? Afinal, rigorosamente falando, como é possível "descobrir" uma nação já habitada por cinco milhões de indígenas há mais de 20 mil anos antes do "descobrimento"? Nessa entrevista, o Professor Edson Rocha, do Colégio Boa Viagem, fala sobre as contradições da história oficial e defende a revisão de certos conceitos com o objetivo de resgatar alguns aspectos da verdadeira História do Brasil. Uma História que se ocupe em dar voz não apenas aos "vencedores", mas também aos "vencidos".

Por que o conceito de 500 Anos de Descobrimento está sendo questionado cada vez mais?

A história tradicional mostra, erroneamente, que o Brasil foi "descoberto" em 22 de abril de 1500, por Cabral e toda a sua frota. É uma visão eurocêntrica, que tenta impor uma visão hegemônica, desprezando e apagando a história dos povos indígenas e dos migrantes que sonharam fazer desta uma nova pátria. Eles se consideram os descobridores de um novo mundo, sem considerar que, aqui, já habitavam mais de 5 milhões de índios, de 970 povos diferentes, com sua cultura e seus costumes peculiares.

Então as comemorações pelos 500 anos estão equivocadas?

Brasileiros e portugueses estão cantando em comemoração aos cinco séculos de "descobrimento". Mas será que o nosso povo tem motivos para festejar? Resgatando a nossos história, vemos que os nossos indígenas eram os donos naturais da terra e foram dizimados pelos invasores. Estão, até hoje, em constantes lutas por seus direitos. E os negros, que deixaram a senzala para engrossar o contingente de desvalidos? Não podemos mais continuar nos guiando pela ótica estreita dos "500 anos", pois a primeira conseqüência será a de nos condenarmos a ser um País sem memória.

Qual deve ser a cara do Brasil nesses 500 anos?

Poderíamos, a partir desse momento, empreender uma história repensada e crítica, fazer uma análise do Brasil de forma consciente, mostrando, de forma clara, os erros históricos que foram mantidos por séculos. Não podemos mais ser coniventes com a ideologia do europeu, que nos passa uma história alienadora. Sabemos que não somos herdeiros de um encontro harmoniosos de três raças. A partir de uma reflexão, vamos repensar nossos 500 anos de história e buscar um alicerce para todos os brasileiros poderem sonhar e ver o Brasil com mais igualdade, solidariedade e democracia. Onde todos possam construir a sua vida com dignidade, respeitando a riqueza de sua grande diversidade humana, espiritual e cultural.

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