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Cenários como Reflexão Estratégica

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Publicado em Sun Jun 13 18:09:00 UTC 2004 - Edição 298

Toda decisão empresarial se baseia em alguma forma de antecipação das condições futuras do ambiente de negócios em que atua e disputa mercado. Com ou sem ferramentas e informações adequadas, com critérios técnicos ou recorrendo à intuição, os empresários estão sempre refletindo sobre o que deverão encontrar à frente, fazendo apostas em determinados caminhos e possibilidades futuras. Num mundo tão incerto e imprevisível, a descrição de futuros pode parecer um esforço inócuo e desnecessário; entretanto, paradoxalmente, quanto maior a incerteza, mais necessidade temos de refletir sobre as perspectivas futuras para identificar as prováveis condições do ambiente empresarial, orientando as decisões. Até porque, no meio de toda incerteza, existem circunstâncias históricas que identificam tendências e inércias capazes de delimitar as incertezas a probabilidades de evolução.

 

Cenários são apenas uma das formas de antecipação do futuro, uma forma sistemática, rigorosa e tecnicamente fundamentada de lidar com as incertezas, explicitando as hipóteses plausíveis sobre o desempenho das mesmas e analisando a consistência das combinações. Na construção de cenários, são realizadas reflexões em torno dos padrões básicos de evolução futura da realidade, definindo arquétipos que estruturam diferentes alternativas de mudança. A apreensão e explicitação desses padrões de comportamento das incertezas são a essência da especulação sobre o futuro que leva aos cenários. Dessa forma, ajudam a empresa a caminhar nos espaços de possibilidades e permitem que as surpresas e os novos eventos sejam organizados e incorporados na estrutura lógica dos cenários. As decisões devem procurar atuar dentro desses intervalos do possível.

 

Na verdade, o que importa mesmo nos cenários não é o seu resultado, acertar ou não o caminho da história; o fundamental é a construção de um raciocínio estratégico, formando um leque de opções prováveis de comportamento da realidade, frente às quais se definem as ações e alternativas empresariais. É essa reflexão estratégica na formulação dos cenários que vai criando uma capacidade de resposta das empresas às diferentes possibilidades de futuro e seus impactos no ambiente de negócios. Por conta disso, mais importante que contar com alguns cenários é o empreendimento técnico e gerencial da empresa para conceber e formular os cenários, organizando e sistematizando os arquétipos que descrevem as diferentes condições do ambiente de negócios. O processo de construção e desenho de cenários contribui para formar uma visão coletiva da empresa e para fundamentar as decisões e escolhas estratégicas; representa, dessa forma, uma aprendizagem organizacional, aumentando a capacidade da empresa na observação do ambiente, desenvolvendo uma postura estratégica e antecipatória, não apenas episodicamente durante o estudo de cenários, mas durante todo o planejamento.

 

A chave da especulação do futuro está em fazer as perguntas certas: "quais são as grandes incertezas" de cujo comportamento combinado decorrem as alternativas de futuro? Definidas estas, e formuladas as hipóteses plausíveis de seu desempenho, os padrões de futuro emergem naturalmente. Simples? Nem tanto. Os cenários devem ter duas características básicas: plausibilidade das hipóteses e consistência da descrição.

 

Por isso, por trás de cada formulação e combinação de hipóteses, se encerram um grande debate e uma reflexão interna nas organizações, confrontando as percepções e os conhecimentos acumulados dos gerentes e planejadores, de modo a formar uma visão coletiva das alternativas futuras.


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