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Arquitetura Moderna (2/4) A Arquitetura Comercial Local e Universal

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Publicado em Sun Mar 14 17:34:00 UTC 2004 - Edição 285

Muitos fatores fazem com que os edifícios de escritórios sejam cada vez mais internacionais. Uma torre de escritório situada numa metrópole como Recife, Tóquio ou Lisboa está, na verdade, dentro do mundo da “economia global”. A Internet; a inter-relação de diversas atividades e lugares; o comércio; o intercâmbio cada vez maior dos negócios; a climatização dos espaços de trabalho compulsório, para o bom desempenho do hardware e para o conforto termoacústico que as pessoas necessitam para trabalhar, deixam os edifícios, cada vez mais, com características universais.

 

A dinâmica própria do mundo moderno dos negócios exige funções específicas dos espaços e chassis dos prédios, traduzidas em plantas e desenhos próprios para atender a essas funções.

 

Cada lugar, no entanto, é um lugar. As coisas que nos rodeiam exercem outro tipo de “força”, feita de tradição, de hábitos, clima e paisagem, que nos impulsiona a incorporar essa gama de valores na caligrafia e no uso desses edifícios. A grande dificuldade, hoje, é transportar essa preocupação para a arquitetura nas metrópoles. Mais difícil ainda é dar a essa arquitetura uma condição de regionalidade perceptível aos que vivem em cada região.

 

Diferentemente de outras artes, como pintura, escultura ou cinema, a arquitetura é eminentemente espaço utilitário ao homem. Arquitetura é construção, sempre recebendo informações e modificações — quer tecnológicas, quer de racionalização, quer de demandas e mercado — em constante diálogo, nem sempre imediato, com aspirações conceituais e estéticas.

 

Aí deve se situar o esforço anônimo dos arquitetos de busca-rem valores culturais locais, sem repetição do que foi feito, ou corruptelas de símbolos, ornatos ou caligrafia que respondam a um outro tempo, a outras funções, a outra maneira de viver.

 

Os arquitetos, por exemplo, têm, por certo, “inveja” dos ar-tistas que conseguem fazer arte de qualidade com cores locais e com instrumentos contemporâneos. Sintonizados com o que está acontecendo no mundo, mas com “sonoridade” e alma locais. É o caso, por exemplo, dos artistas contemporâneos que não tiveram que tocar exclusivamente rabeca, triângulo ou sanfona para ser Nordestinos.

 

É a forma de expressar essa essência em edifícios de uso cosmopolita nas grandes metrópoles que nós, arquitetos, buscamos achar. Na casa, na escola, nos hotéis, até que temos conseguido esse “som arquitetônico local”. O desafio é encontrar essa essência geradora nas construções eleitas como nossas. Desligar-se do formalismo, decorrência natural dos materiais da época (as rabecas e sanfonas), buscando o espírito gerador da vontade de fazer aquela arquitetura.

 

Nossa tradição de buscar a sin-geleza, a limpeza e a correção nas proporções da arquitetura colonial nordestina de nossas igrejas, casario e construções nos engenhos. A estrutura sempre lida claramente, as curvas dos espaços internos barrocamente insinu-adores da surpresa arquitetural. A ousadia do novo, reflexo da nossa tradição de pioneirismo de movimentos culturais através dos tempos. Essas, talvez, sejam vertentes a serem perseguidas.

 

Buscar identidade em sua cidade e em sua região não é um caminho óbvio nem fácil para arquitetos que se dedicam ao setor empresarial. Mas não vamos parar de tentar. Quem sabe chegaremos a alcançar este “som arquitetural simulta-neamente local e universal”.


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