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Os desafios da empresa familiar

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Publicado em Sun May 16 19:05:00 UTC 1999 - Edição 35
Noventa e nove por cento das empresas não estatais brasileiras são familiares. Com uma dinâmica própria e problemas específicos, elas convivem com um prognóstico preocupante: só 30% das empresas bem sucedidas sob a gestão de seu fundador, sobrevivem à mudança para a segunda geração. E, dessas, só metade passa da segunda para a terceira geração. Para analisar mais a fundo essa realidade, mostrar experiências bem sucedidas e debater soluções realistas, será realizado, no dia 28 de maio, o seminário "Empresa Familiar - Soluções para Assegurar um Lugar no Futuro", promovido pela TGI Consultoria em Gestão e Martorelli Advogados, em parceria com as Organizações Bernhoeft. Nesta entrevista, o consultor Renato Bernhoeft, presidente das Organizações Bernhoeft e membro do FBN - Family Business Network, fala sobre os principais desafios enfrentados pelas empresas de controle familiar e aponta algumas alternativas para mudar as sombrias estatísticas que rondam os negócios em família.

Sete em cada dez empresas familiares não conseguem sobreviver à sucessão de seu fundador. Por que isso acontece com tanta frequência?

- Perpetuar uma sociedade familiar envolve compreender que ela deve ser feita, sempre, no mínimo, em duas perspectivas: a sociedade propriamente dita e também as questões relativas à gestão. Um dos erros mais comuns que muitos empresários, herdeiros, e até mesmo consultores que lidam com o tema empresa familiar cometem, é encaminhar a sucessão apenas levando em conta um foco. Ou seja, a substituição naquilo que envolve a gestão dos negócios. E essa falha tem sido uma das razões de fracasso no encaminhamento da continuidade de muitas sociedades familiares.

Por que é tão difícil para os herdeiros dar continuidade à uma empresa, mesmo quando ela é bem sucedida?

- É de fundamental importância que todos compreendam, que irão herdar, de fato, duas coisas: um negócio e um grupo de sócios. Mas há um agravante. Nenhum deles escolheu aquele negócio que já existe. E um ponto mais delicado ainda, nenhum deles escolheu os sócios que vai herdar. Ou seja, mesmo sendo irmãos, primos ou filhos de sócios que não tem parentesco, estes herdeiros não tiveram a liberdade de se escolherem como sócios, independente do relacionamento pessoal que cada um deles mantenha entre si. Neste ponto reside boa parte dos conflitos. Caso as partes não consigam um entendimento, a possibilidade será de litígios, desentendimentos, cisões, destruição das empresas e até perda do patrimônio.

Como evitar que problemas familiares terminem interferindo ou prejudicando a gestão da empresa?

- A empresa não pode ser encarada como local de resolução dos conflitos familiares. Estes vão sempre existir, e, por esta razão, deve ser criado um fórum próprio. Este situa-se no nível dos Conselhos de Família, Societário ou Consórcio de Primos. Ou seja, muito de acordo com a cultura e interesses de cada um dos grupos controladores.

Quais as perspectivas para as empresas familiares no Brasil?

- Podemos prever que vencido o atual ciclo de ajuste para muitos grupos nacionais, haverá uma perspectiva digna para as empresas familiares. Especialmente aquelas que conseguirem separar, de forma negociada e através de um processo de preparo, questões de ordem familiar, dos vínculos acionários que liga os herdeiros. E estas duas componentes desvinculadas da empresa, como entidade que deve estar voltada para o mercado.

O que uma empresa familiar deve fazer para assegurar realmente um lugar no futuro?

- Tanto as empresas familiares que desejam ter vida longa, como aqueles que com ela se relacionam, devem entender que controle e gestão necessitam ser olhados com a mesma atenção. De nada adiantam regras e modelos de gestão se não houver também um modelo que regule as relações societárias entre acionistas. Mais ainda quando essas pessoas possuem também vínculos de irmãos, cunhados ou primos. O futuro da empresa familiar nacional não depende só das condições do mercado e da economia. Parte das soluções tem relação direta com a capacidade de profissionalizar tanto o controle do capital, como a gestão dos negócios.

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