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Por um novo modelo de desenvolvimento

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Publicado em Mon Aug 26 02:16:00 UTC 2002 - Edição 205

Esgotado o tempo das grandes simplificações políticas e econômicas — com a falência dos modelos de esquerda e direita —, as nações vêem-se diante de um desafio comum: alcançar um desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo e sustentável do ponto de vista ambiental. Hoje, essa é a única alternativa possível para responder aos problemas da sociedade, na opinião do economista Ladislau Dowbor, palestrante convidado do projeto Ação em Debate, promovido, na última semana, pela Ação Empresarial pela Cidadania. Ex-consultor da ONU e atualmente professor titular do departamento de pós-graduação da PUC-SP, ele falou sobre as novas dinâmicas do capitalismo, em palestra que teve como debatedor o consultor Francisco Cunha, diretor da TGI e integrante da Rede Gestão.

 

Na opinião de Dowbor, o desenvolvimento baseado no tripé "economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente sustentável" é uma meta particularmente desafiante para o Brasil. "Somos um país de grandes contrastes. Ao mesmo tempo em que temos a décima economia do mundo, estamos em 73º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU." Como, então, alcançar esse objetivo? "Isto não se atinge com as empresas só pensando em dinheiro, o Estado arcando com as conseqüências sociais e o terceiro setor batalhando na defesa do meio ambiente", pondera o economista. "A articulação entre o governo, as empresas e a sociedade organizada é o grande norte desse novo modelo de gestão."

 

Na visão de Ladislau Dowbor, a administração das políticas sociais deve ser dominantemente comunitária, com forte participação das organizações da sociedade civil, ter a presença reguladora do Estado e o apoio das empresas, por meio de parcerias. "A gestão social exige políticas descentralizadas. É no nível do município, da comunidade, que a área pública e as organizações da sociedade civil podem efetivamente se aproximar." Mas essa realidade ainda está distante. No Brasil, os municípios, por exemplo, têm acesso a apenas 17% dos recursos públicos, enquanto na Suécia 72% dos recursos são geridos na esfera municipal. Na saúde, 80% dos recursos vão para a área curativa hospitalar, quando poderiam alcançar resultados muito melhores se empregados na prevenção.

 

Na opinião de Francisco Cunha, além das dificuldades já elencadas, há um outro obstáculo a ser superado — o individualismo e o autoritarismo presentes nos vários níveis da sociedade. "Costumo dizer que o maior problema da empresa, no Brasil, não está nos concorrentes ou no mercado, está, infelizmente ainda, dentro da própria organização. A maior dificuldade está nas pessoas que, quando não suficientemente arregimentadas, são capazes de barrar qualquer mudança ou avanço." Como alternativa, Francisco aponta a "vocação irreversível" do País para a radicalização do processo democrático. "A democracia, não só pensada no nível macro, mas, principalmente, no micro, dentro das empresas e das organizações, é a principal ferramenta para viabilizar esse novo e necessário modelo de gestão social."


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