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Cidadania Empresarial: Isso Existe?

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Publicado em Sun Jan 27 17:39:00 UTC 2002 - Edição 175

A responsabilidade social nas empresas pode ser compreendida sob três pontos de vista: o dos ideais, o das idéias e o das ações. Segundo Nílson José Machado, a cidadania advém da consonância entre o projeto social do indivíduo e o do coletivo ou da sociedade. Essa construção deve estar fundamentada em valores (não importa se derivados da religião, da filosofia ou de uma cultura familiar, mas que sejam únicos e que sejam seguidos) e norteada pela vocação de cada indivíduo. A idéia de cidadania empresarial surge da aplicação do conceito de cidadania no âmbito empresarial. Transpondo a noção de cidadania para a realidade da organização, é fundamental construir instrumentos que viabilizem a articulação dos projetos da empresa com os da coletividade que a cerca. Espera-se de uma organização que ela perceba as necessidades do mundo, enxergando sua parcela de responsabilidade na construção da realidade social.

 

Saindo dos ideais e chegando às idéias, o modelo de Patrícia Ashley faz uma interface satisfatória entre a adaptação do conceito de cidadania e a sua concretização. Esse modelo concebe uma pirâmide a partir de quatro aspectos: o econômico, o legal, o ético e, finalmente, o de auxílio à sociedade, em colaboração com o seu desenvolvimento sustentado e com a manutenção das condições necessárias à vida (meio ambiente).

 

Antes de qualquer exemplo prático cabem algumas indagações: Qual a possibilidade de uma empresa instalada no Brasil seguir à risca o modelo proposto, alinhando seus próprios projetos e planos estratégicos com os da sociedade? Ainda dentro dessa perspectiva, o descumprimento de quais dos aspectos apresentados caracterizaria a organização como socialmente irresponsável?

 

Qual o rigor desejado? A desvinculação do projeto individual em relação ao coletivo é suficiente para tal caracterização? Certamente respostas para questionamentos dessa natureza não surgem facilmente.

 

Dentre uma infinidade de casos contraditórios, alguns adquiriram indiscutível notoriedade. Inúmeras foram as reportagens, veiculadas em jornais, rádio e televisão, que denunciaram a poluição em praias e rios por "descuido" de uma grande empresa brasileira. Com menor freqüência, tem-se notícia da diversidade de projetos sociais patrocinados por essa organização — desde o fomento ao esporte, passando pela cultura e pela proteção ao meio ambiente, até campanhas para adoção de projetos sociais.

 

Como lidar com casos dessa natureza? Estaria essa empresa atravessando um purgatório em busca da redenção frente à sociedade? Ou poderia ser classificada como socialmente (ir)responsável? Qual o ponto de equilíbrio?

 

É certo que o modelo proposto mostra-se omisso ou incompatível com algumas situações reais. O sentido de utopia, entretanto, pode ser quebrado no momento em que se decidir transcender a comodidade da ética de convicção (para a qual conhecer o certo não garante ações efetivas) para uma ética de responsabilidade, em que a medida de crescimento está respaldada pela assunção da parcela de risco que cabe a cada indivíduo e, sobretudo, pela realização dos projetos individuais em sintonia com o projeto maior, numa ação coerente, sustentada e coletiva.


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