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|Planejando a Carreira - O profissional em foco - Paulo Gustavo

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Estágio: uma Marca Profissional

O estágio é a porta de entrada no mercado de trabalho, por isso requer seriedade e profissionalismo.
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Publicado em Sun Jun 28 20:08:00 UTC 2009 - Edição 560
          Como ex-estagiário, por quase dois anos, de uma assessoria de imprensa de um órgão estadual, bem sei da minha dívida com a prática de um bom estágio profissional. Para usar de uma expressão de Machado de Assis em Dom Casmurro, o estágio é uma primeira “ponta da vida” — a ponta da formação que, se benfeita, terá uma repercussão duradoura na maturidade. É nele que, talvez mais que nas faculdades, começa a vida adulta, com o que esta tem de responsabilidade, de regras e normas, de confrontos com o mundo do trabalho. No estágio, corta-se, em parte, o cordão umbilical com a vida estudantil, cujas despreocupações, ainda que romantizadas, de fato existem e pouco são comparáveis ao trabalho numa empresa ou instituição.
          Entre o estagiário e a empresa, a reciprocidade deveria ser a regra. Da parte desta, a acolhida, a orientação, o monitoramento, o estímulo às potencialidades do estudante; da parte daquele, o empenho, o compromisso, a pertinência aos códigos de conduta e de valores. Sendo um período de descobertas e novas experiências, é natural que o estágio favoreça o amadurecimento tanto profissional quanto pessoal. É de se notar que hoje, mais do que nunca, a face pessoal e a profissional são lados de uma mesma moeda, uma enriquecendo a outra e formando um todo praticamente indivisível.
          É desejável aquela correspondência, embora nem sempre seja possível, quer por causa das próprias empresas — muitas apenas sedentas de mão de obra barata e negligentes quanto aos aspectos essenciais do estágio —, quer por causa da imaturidade de estudantes tão somente preocupados em, no fim do mês, ganharem sua bolsa. Sem falar dos cuidados de educação básica e dos aspectos emocionais e de relacionamento que os incompatibiliza, inicialmente, para o trabalho em equipe e para diversos aspectos cruciais da moderna vida empresarial. Nesse sentido, o que está em jogo é a adaptação problemática à nova vida, com o estudante não percebendo as condições do ambiente institucional, não decodificando com clareza as regras e os sinais. Vive-se, então, no estágio, resíduos de comportamento infantilmente familiares e estudantis. Observam-se, assim, equívocos que desencaminham o potencial de prática e de aprendizado de muitos estudantes. Por sua vez, o que uma empresa séria requer é algo bem mais exigente e, ao mesmo tempo, muito simples: seriedade e compromisso. O estágio pode e deve ter o gosto do profissionalismo, pois é por meio dele que se aprende fazendo e que a prática se impõe quase sempre em detrimento de teorias puramente livrescas.
          O bom estágio é conteúdo e contágio. Nele, dia a dia, deve ser mostrada a vontade de aprender com quem já sabe e de praticar o que se aprendeu nos livros ou na vida. Por outro lado, a falta de experiência não justifica a falta de um comportamento adequado do estudante. Sua hora é de estar “ligado” e de imitar os profissionais de excelência: “mostrar serviço”, pois o segredo — se se quer um segredo bem conhecido! — é que o mundo, como lembra Pierre Lévy, deseja e requer boa prestação de serviço. Para tanto, o estudante não precisa nem pode se passar pelo que não é: deve-se deixar “envelhecer” naturalmente. Sua maturidade então virá ao encontro dos seus “verdes anos”, imantada pelo seu esforço pessoal e com o selo das experiências que se acumularam ao longo do tempo. Terá, então, orgulho do seu estágio e descobrirá, com certeza, que foi um tempo enriquecedor e inesquecível.

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