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A Escola Precisa Mudar

As escolas ainda têm grande dificuldade de associar o ensino à realidade social e ao cotidiano, visão que ganhou força após a adoção do Enem como processo seletivo.
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Publicado em Sun Jan 15 18:27:00 UTC 2012 - Edição 693

          Os conceitos de competências e habilidades estão em evidência no mundo da educação, especialmente nos últimos três anos, com a adoção do Enem como processo seletivo das universidades — apesar de terem sido introduzidos formalmente no sistema educacional brasileiro na década de 1990, com a criação do sistema de avaliação da Educação Básica. Esses conceitos representam a visão de que a educação deve ter como principal objetivo a aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula no dia a dia do estudante, fugindo do ensino meramente conteudista. A proposta é que a escolarização deixe de ser relacionada à teoria pura para se tornar articulada à realidade social e, sobretudo, à resolução de problemas do cotidiano.
          Nesse contexto, a grande dificuldade percebida nas escolas é vincular, com eficiência, os conceitos à prática de ensino e aprendizagem. Segundo Nílson Machado, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) e um dos criadores do Enem, não houve, por parte das escolas, aplicação prática dos conceitos e o aporte teórico produzido sobre o assunto não chegou a se institucionalizar. Ainda sobre o assunto, Mônica Waldhelm, Doutora em Educação pela PUC-Rio, destaca que a dificuldade de colocar em prática um currículo com foco nas competências e habilidades é generalizada, não sendo exclusividade da rede pública ou particular, nem mesmo de uma determinada região do País ou etapa escolar. 
          Esse hiato existente entre teoria e prática é preocupante, ainda mais quando se espera da escola contemporânea a formação de um estudante crítico-reflexivo, inovador, que saiba solucionar os problemas do mundo que o cerca. O que se percebe é que, apesar de estarem em alta, as ideias de competências e habilidades foram mal incorporadas nas salas de aula e poucos professores conseguem, de fato, relacioná-las aos conteúdos curriculares. As evidências do problema ficam visíveis no entendimento equivocado de que contextualizar é colocar questões com enunciados enormes ou que o conteúdo não é importante para a aquisição das competências e habilidades. Não há competências e habilidades sem conteúdo!
          A dissonância entre o que se espera de um ensino de qualidade e a prática educacional é agravada com a ausência, nos cursos de formação docente, de fundamentação e de instrumentação que possam sustentar a prática dos futuros professores. Para Bernadete Gatti, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, a formação docente é genérica. Há uma ausência de orientação curricular, de uma matriz de avaliação.
          Essa desafiadora articulação pode ser feita de diferentes formas. Partindo do princípio de que a escola é um espaço de aprendizagem, algumas ações podem ser desenvolvidas pela escola e pelos professores: 
          (1) Planejar o ensino por área do conhecimento, e não por disciplinas isoladas, articulando competências, habilidades e conteúdos, assim como promover avaliações integrando as diversas áreas do saber. Isso favorece o entendimento de que o conhecimento não é fragmentado, dando ao jovem maior possibilidade de dar sentido àquilo que aprende. (2) Vincular os conteúdos ensinados em sala de aula com o cotidiano do jovem. Trazer situações-problemas que contextualizem o mundo extraclasse do estudante, utilizando o conhecimento adquirido para resolvê-las. Essa dinâmica favorece ao estudante compreender e aplicar o conhecimento em sua vida e nas futuras situações com que se deparar. (3) Proporcionar excursões pedagógicas interdisciplinares, com o objetivo de analisar o fenômeno por diferentes olhares e integrá-los. (4) Estimular a capacidade de investigar, refletir e analisar do jovem por meio de pesquisas; construir espaços de pesquisa na escola proporciona ao aluno contribuir com a própria formação do conhecimento. (5) Propiciar espaços de reflexão e de autoavaliação da prática escolar e dos professores, a fim de refletir e ajustar as estratégias de ensino-aprendizagem.


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