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Diálogo Geracional: Alguns Pontos nos Y

O velho e saudável conflito de gerações ganhou uma nova roupagem, mas é preciso cuidado para que o novo rótulo não sirva como blindagem para falhas profissionais.
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Publicado em Sun Jun 19 18:01:00 UTC 2011 - Edição 663

          O mundo, justamente quando mais envelhece por força das inovações tecnológicas, mais tem medo de envelhecer. Por outro lado, há um natural embevecimento da sociedade com relação aos jovens e milionários empreendedores da internet e das TICs. Chegam aonde todos gostariam de chegar e são adulados pela mídia como outrora os primeiros e grandes impressores de livros. Eles têm de fato uma merecida glória e um justo reconhecimento. Todavia, há um rastro de ilusões a contagiar os jovens de outras áreas e os profissionais de todas as idades. E nesse rastro respiram-se ansiedade e angústia.
          O poeta Mario Quintana sintetizou muito bem ao refletir que há dois modos de se saber que se está velho. O primeiro, segundo ele, é desprezando os jovens; e o segundo, adulando os jovens. Eis a fatal e bipolar tentação que traduz, noutro plano, a recusa das mudanças ou a sua idolatria. Castro Alves (que foi, a meu ver, o até agora único grande poeta jovem do País, o que não é pouco) escreveu que o futuro é o que sempre vence: “No pugilato tremendo/ Quem sempre vence é o porvir!”. Sim, vence, mas, poderíamos acrescentar: com a condição de se tornar velho, ou seja, de ter um passado, uma experiência válida, uma densidade... O simplesmente envelhecer, por si só, representa muito pouco... A recusa ao envelhecimento, hoje aguçada pela idolatria do que é novo, está longe de uma generosa e profícua compreensão da vida. É o que nos leva a acreditar o recém-lançado livro O Melhor Cérebro da sua Vida, de Barbara Strauch: com mais maturidade, o cérebro humano alcança uma visão mais ampla, passando a avaliar melhor uma situação e percebendo logo a essência de um argumento. É o que diz a ciência, desfazendo alguns mitos disseminados por aí.
          No rastro da “adulação” dos jovens, criam-se rótulos: Geração Y é uma dessas criações, e já estão nascendo outras... Tenho dúvida se o rótulo é eficaz e se ele é de fato útil para vermos o que de outro modo não veríamos. O certo é que a denominação demarca um “território” e é questionável a diversos títulos, criando, penso eu, mais conforto para os jovens que para “os outros”. Tal rótulo não pode nem deve transformar-se numa blindagem ou se oferecer à manipulação fácil e encobridora de falhas profissionais (tanto para jovens como para maduros), sobretudo se essas falhas forem de comportamento e de inteligência emocional.
          Na prática, observo que a reação à Geração Y é igualmente menos um problema dessa geração do que uma fraqueza dos mais velhos que não sabem desfrutar de sua experiência e da fecundidade do passado. Mas, atenção, tanto o passado como o futuro não são por si mesmos necessariamente melhores. Quem, por exemplo, teria saudade da Segunda Guerra Mundial? Mas quem gostaria de, num futuro próximo, se saber numa guerra atômica de terríveis proporções? 
          O que há, sob nova roupagem, é o velho e saudável conflito entre gerações, para o qual os melhores remédios continuam sendo bom-senso, diálogo e respeito mútuo. Enfim, há de se compatibilizar a “idade das crenças” (Proust) dos jovens com o ceticismo e a visão ampla dos mais vividos. Uns e outros deveriam se complementar mutuamente. O que digo é uma platitude, mas há platitudes que podem ser vitais tanto para a vida como para os negócios.
 


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