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Construir Vínculos Éticos na Vida e no Trabalho

É um equívoco pensar que investimento e compromisso de longo prazo são armadilhas nos campos pessoal e profissional.
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Publicado em Sun Aug 06 17:41:00 UTC 2006 - Edição 410
Jovens profissionais, em grande maioria, associam vínculos sólidos com empresas e instituições à impossibilidade de tentar outras alternativas. Prevalece o equívoco de que investimento e compromisso de longo prazo são armadilhas para bloquear o indispensável acesso à diversidade de experiências provisórias. Se alguma proposta lhes parece mais interessante, facilmente se desengajam e rompem com os frágeis elos em vigor.

Esse comportamento não se restringe ao campo profissional. Para o sociólogo polonês Zigmunt Bauman, trata-se do padrão de relacionamento da líquida sociedade moderna. Sua característica é o estabelecimento de laços frouxamente atados, exatamente para serem desfeitos à medida que mudem os cenários. Entregues aos próprios sentidos e valores descartáveis, homens e mulheres não se dispõem a sustentar relações que exijam encargos e tensões.

A líquida razão moderna confunde compromissos duradouros com opressão e engajamentos com dependência incapacitante. Destitui a importância dos vínculos para reforçar as conexões. Estas, ao menor sinal de desconforto, podem ser cortadas, rompidas, deletadas. Passa a busca da novidade a representar, para as relações pessoais e profissionais, o que os últimos lançamentos significam para a cultura de consumo. Bem-sucedidos são aqueles que sabem fazer uso da rotatividade para prevenir o tédio.

Na vida pessoal, parceiros sucessivos (às vezes simultâneos) são alinhados como se fizessem parte de um catálogo. Na vida social, companheiros se reduzem aos que compartilham das sensações fugazes da compra e da venda. Nas atividades profissionais, o oportunismo, o carreirismo e os atentados à ética triunfam sobre os valores que têm, no trabalho, expressão da dignidade humana e do comprometimento com o bem-estar social.

O anterior modelo conformista, que sugeria submissão dos trabalhadores às imposições dos empregadores, cede agora lugar ao exercício da liberdade individual sem responsabilidade. Uma grande ilusão: o imediatismo e a esperança de grandes recompensas em curto prazo. Ilusão incrustada na cultura e disseminada, também, por meio de recomendações e práticas de muitos especialistas e organizações. Fere a ética, fragmenta a rota profissional, leva ao caminho da frustração, do descrédito e do isolamento social.

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