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Negócios Sociais: Soluções e Lucratividade

Entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, cada vez mais jovens estão optando pelas duas alternativas.
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Publicado em Sat Feb 02 22:47:00 UTC 2013 - Edição 748
Uma nova forma de empreender tem se destacado no mercado: os chamados negócios sociais, ou inclusivos. Insatisfeitos tanto com o modelo de negócios que visa apenas ao lucro quanto com as ONGs que não garantem a própria sobrevivência, jovens e profissionais desenvolvem modelos híbridos de negócios rentáveis que, ao mesmo tempo, geram renda e buscam resolver um problema social — do analfabetismo à falta de saneamento básico.
 
O que define o negócio, no entanto, é sua prioridade: antes da rentabilidade, deve aparecer a causa social. Para o canadense David Bornstein, pesquisador, autor de livros sobre empreendedorismo de alto impacto e entusiasta dessa modalidade, quando se fala sobre empresas sociais, destacam-se aquelas cujo principal objetivo é resolver um problema, como, por exemplo, a pobreza. Geralmente, atuam em áreas onde os negócios nunca se aventuraram antes, porque ninguém julgou que poderiam ser lucrativas. É um novo tipo de empreendimento que só é alcançado quando se encontra uma maneira de ajudar as pessoas.
 
Entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, os jovens estão optando pelos dois, afirma Débora Basso, coordenadora de formação da Artemísia, organização pioneira no fomento a esse tipo de empreendedorismo no Brasil. O crescente interesse pelo tema tem impulsionado as universidades nacionais e internacionais a abordarem esse assunto, adequando-se às novas demandas de jovens iniciantes no empreendedorismo social. Em Harvard, por exemplo, acontece, anualmente, uma conferência para debater negócios sociais, organizada integralmente pelos alunos. Em 2012, mais de 1.500 estudantes participaram de debates, workshops e palestras. A Universidade de Stanford inaugurou há pouco tempo o Instituto para Inovação em Economias em Desenvolvimento, denominado Seed. Nesse instituto, os alunos poderão discutir modelos de negócios que visam a reduzir a pobreza de nações como o Brasil e a Índia. Para Hau Lee, professor e diretor do Seed, a maneira mais eficiente de dirimir desigualdades sociais não é oferecer ajuda na forma de alimentos, dinheiro ou remédios: é preciso formar empresários que desenvolvam soluções criativas e de alto impacto.
 
No Brasil não é diferente. As universidades e os estudantes também começam a se familiarizar com os negócios sociais. No Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), os alunos já conseguiram levar o empreendedorismo social para o centro do debate. Desde 2007, acontece a Reunião Universitária de Empreendedorismo Social e Responsabilidade Socioempresarial (Reunes), que debate formas de contribuir socialmente para o desenvolvimento do País. A Fundação Getulio Vargas (FGV) também deve incorporar nos próximos anos uma disciplina dedicada exclusivamente aos negócios sociais.
 
No mundo prático, podemos citar dois exemplos de jovens brasileiros engajados nesse modelo de negócio. O administrador Tiago Dalvi criou a empresa Solidarium a partir da oportunidade de unir forças com artesãos do Brasil que viviam em extrema pobreza. A empresa trabalha como uma ponte entre 1.600 artesãos de 12 estados brasileiros e grandes redes varejistas, como o hipermercado Walmart e as lojas de móveis e decoração Tok&Stok. Esse trabalho deve faturar em torno de 1 milhão de reais em 2013, além de ajudar a minimizar a pobreza.
 
Outro exemplo é o empreendimento social de Omar Haddad, de 28 anos. Desde 2008, está à frente da Sementes de Paz, que leva produtos orgânicos de duas dezenas de agricultores e cooperativas a alguns milhares de consumidores na Grande São Paulo. 
 
O crescente interesse pelos negócios sociais produz uma nova forma de engajamento, tendo os jovens como precursores. Trata-se de um engajamento mais autoral, em que se esperam envolvimento e compromisso social. É um grande desafio, que busca soluções para problemas sociais sem abrir mão da lucratividade.

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