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Lições da Derrota do Brasil para a Gestão

Em meio à frustração geral, é possível tirar algumas lições do fracasso da seleção brasileira para não repetir os erros no campo da gestão da empresa.
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Publicado em Sun Jul 11 19:04:00 UTC 2010 - Edição 614

          A desclassificação do Brasil na Copa é uma boa oportunidade de refletir sobre o que deve ser evitado no dia a dia da gestão organizacional. Uma análise comparativa do ocorrido com alguns preceitos da gestão empresarial aponta o que se poderia chamar de erros de condução do processo, que podem ser considerados muito danosos para o gerenciamento estratégico. Foram eles os seguintes:
          1. Improvisação – Com Dunga, aconteceu uma coisa muito comum no dia a dia da gestão: a promoção de um bom profissional da condição de gerenciado para gestor, sem que ele estivesse minimamente preparado para isso. Dunga tinha deixado a carreira de jogador (avaliado como “empenhado”, “valente” e “determinado”, ainda que, segundo alguns críticos, “limitado” do ponto de vista das habilidades técnicas) quando foi chamado para ser técnico da seleção brasileira. Improvisação pura. Um tiro no escuro, irresponsável. Afinal, segundo disse com muita propriedade Nelson Rodrigues, a seleção é “a pátria em chuteiras” e, como tal, merece todo o respeito, não podendo ser lugar de improvisações de comando.
          2. Rigidez – Talvez por conta de suas inevitáveis limitações em relação aos conhecimentos requeridos para um técnico da seleção brasileira, Dunga adotou a rigidez dos esquemas táticos que veio, na Copa, se mostrar desastrosa. No momento em que se tornou mais necessária a flexibilidade para mudar o esquema, após o primeiro gol da Holanda no jogo da desclassificação, o time se desarrumou, mas o técnico não flexibilizou a rigidez: defesa “boa”, meio de campo indefinido e privilégio aos contra-ataques. Quando a defesa “forte” falhou, o esquema todo veio abaixo.
          3. Teimosia – Dunga sempre demonstrou uma atitude teimosa, seja em relação às convocações, à concentração dos jogadores, aos esquemas táticos, à relação com a imprensa, etc. Independentemente da razão, um técnico da seleção brasileira de futebol não pode brigar com a imprensa, em especial com a da televisão, que, na Copa, passa a ser o veículo de integração dos corações e das mentes nacionais. Existe uma diferença grande entre perseverança (boa) e teimosia (ruim), e optar pela segunda é correr um risco.
          4. “Patotismo” – Uma seleção nacional de futebol, como o nome mesmo diz, deve tratar de abrigar/acolher os melhores jogadores de nacionalidade brasileira, não apenas aqueles que fazem parte da “patota” do treinador, como ficou evidente nesta Copa. Dunga privilegiou os seus fiéis seguidores obedientes, em vez de convocar os melhores.
          5. Mau Humor – Segundo Madre Tereza de Calcutá, o mau humor é “o pior dos defeitos”. A coisa mais rara de se ver nesta Copa foi um riso de Dunga… É claro que esse permanente estado de espírito mal-humorado, chegando às raias da beligerância, contaminou a equipe e fez com que até jogadores tranquilos chegassem ao descontrole, como foi o caso de Kaká e Robinho.
          6. Arrogância – Para culminar e piorar tudo, uma atitude arrogante e antipática de “dono da verdade” terminou colada ao treinador. Ruim para todos, porque desperta uma perversa e não desprezível torcida pelo fracasso do arrogante…
          A derrota tem o dom de iluminar amargamente os erros e os defeitos. Provavelmente se o Brasil tivesse ido adiante, os defeitos e os consequentes danos à gestão estratégica que eles provocam teriam sido encobertos, e, talvez, até tivesse sido festejado um certo “estilo Dunga” de comando… Como isso não aconteceu, resta tirar as lições da derrota e refletir sobre o que de prejudicial para a gestão existe no mau desempenho do nosso infeliz treinador, procurando evitar a reprodução dos erros cometidos no dia a dia da nossa gestão organizacional.
 


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