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Lições da Crise da Grécia para a Gestão

Em associações de países ou de empresas, além de impor regras e princípios, é importante considerar a estrutura de funcionamento de cada um.
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Publicado em Sun Mar 07 19:41:00 UTC 2010 - Edição 596
          A situação de alguns países na crise fiscal da União Europeia (UE) demonstra uma dificuldade costumeiramente vivida pelas organizações e pelos gestores quando fazem um movimento de associação com outros players do mercado. A constituição do bloco econômico com países heterogêneos mostra que não é suficiente impor regras e princípios para todos, sem considerar adequadamente a estrutura de funcionamento de cada região. A incorporação de novos países na União Europeia acentuou as diferenças, e a crise econômica mundial evidenciou esses problemas.
          Sem a devida análise da realidade de cada novo integrante, a constituição de um grupo pode ficar comprometida. Cada parte do novo conjunto se desenvolveu conforme suas estruturas, condições e práticas de atuação, e não é possível reprogramar o funcionamento para o padrão desejado de forma taxativa. Além disso, é necessário haver flexibilidade para lidar com os percalços do mercado (crise mundial) e as variáveis de todo processo de mudança. Não se trata de discutir o mérito e a pertinência das novas regras e princípios (na UE, equilíbrio fiscal homogêneo e apoio às regiões menos desenvolvidas), mas é importante considerar que as empresas ou os países certamente não têm a mesma estrutura de competitividade. Portanto, deve-se pensar no tempo adequado de adaptação ao novo padrão de funcionamento, que pode ser maior ou menor, dependendo de cada situação e de cada organização.
          A experiência mostra que, quando as peculiaridades de cada grupo não são devidamente consideradas, pode-se ter dificuldade nos momentos de maior pressão. No caso da União Europeia, quando a crise econômica mundial eclodiu, os principais bancos internacionais cessaram o financiamento dos governos nacionais endividados, como foi o caso da Grécia, interrompendo o crescimento sustentado no consumo interno (as famílias ficaram sem crédito para consumir). Devido aos princípios da UE, os países emergentes não tinham mais a flexibilidade para “modificar” as práticas econômicas e providenciar as mudanças diante do cenário adverso, entrando assim numa forte recessão.
          Tanto na formação de associações empresariais como na constituição de blocos econômicos, resguardadas todas as diferenças entre empresas e países, é preciso considerar que não é apenas o fato de pertencer a um mesmo grupo que permite produzir no padrão definido para o conjunto. Para atingir os objetivos da associação, é adequado mapear as condições internas e do ambiente e definir a estratégia para o alcance do padrão pretendido num espaço de tempo adequado — provavelmente, estratégias diferentes para cada empresa/país.
          O conjunto da união de empresas é outra empresa e deve ter suas próprias regras e princípios e perseguir seus objetivos. No entanto, vale lembrar Che Guevara: “Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás” — deve-se ser firme na busca dos resultados sem perder a flexibilidade exigida para lidar com as nuances do mercado. É importante ter o entendimento de que pode ser preciso flexibilizar aspectos já predefinidos para viabilizar a prosperidade dos parceiros, uma vez que nem todos os envolvidos estarão no mesmo padrão de funcionamento no ponto inicial da associação. Afinal de contas, como diz o ditado popular, “nenhuma corrente é mais forte do que o mais fraco dos seus elos”.

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