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Diplomas Não Encantam o Mercado

Os jovens da Geração Y são despreparados para enfrentar os desafios da vida profissional, apesar do bom currículo.
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Publicado em Sun Nov 22 18:09:00 UTC 2009 - Edição 581
          Recente pesquisa iniciada em 2008 e concluída em setembro deste ano constatou reflexos problemáticos do modelo atual de ensino, cujos efeitos se evidenciam, especialmente, no momento em que estudantes e profissionais tentam ingressar no mercado de trabalho. Seu universo foi composto de 713 mil universitários recém-formados, candidatos a vagas de estágio e trainee em grandes empresas, como Microsoft, Sadia, Nestlé, Itaú-Unibanco, entre outras.
          Embora os candidatos dessa seleção fossem oriundos das melhores faculdades do País e a despeito da imensa oferta de mão de obra (3.100 candidatos por vaga), 10% das vagas não foram preenchidas. Segundo Sofia Esteves, psicóloga responsável pela pesquisa, a causa da reprovação foi a baixa qualificação. Ela afirma que quase todos os universitários estão habituados a navegar em redes sociais na internet, têm familiaridade com ambientes interativos e capacidade para realizar tarefas simultâneas e velozes. Porém, não apresentam a mesma desenvoltura quando é preciso manter um foco e aprofundar o conhecimento.
          Entre aqueles que passaram na rígida seleção, aproximadamente 15% desistiram no primeiro ano de trabalho. Não suportaram lidar com pressão, adversidades e ouvir “não”. “Alguns saem porque seu projeto não é aprovado e ficaram aborrecidos”, relata Sofia. Os jovens da denominada Geração Y não aprenderam a lidar com hierarquia, limites e frustrações. Conduta, obviamente, adquirida no ambiente das relações familiares contemporâneas, em que ocorre o enfraquecimento da autoridade dos pais.
          No que diz respeito ao preparo intelectual, têm sido abandonados o hábito de ler (alicerce para analisar, articular as ideias e interpretar criticamente a realidade) e o investimento individual nos estudos, imprescindível à consolidação do conhecimento — fato reforçado em função da prioridade à “maratona” do vestibular. Nessa corrida, interessam apenas informações circunscritas às provas e aos possíveis temas da redação. 
          Pode-se observar que a diversidade de recursos da era digital também não tem sido utilizada para a apropriação do conhecimento. Os jovens gastam boa parte do seu tempo no computador; no entanto, a preferência é por sites de relacionamento, jogos ou salas de bate-papo.
          Mark Bauerlein, autor do livro A Geração Mais Idiota, considera que os dispositivos digitais apenas encasularam os adolescentes, mantendo sua atenção voltada para novidades e os acontecimentos que envolvem interesses recentes e particulares. Por essa razão, o acesso extraordinário às informações não se transforma em índices mais elevados de conhecimentos gerais, investimento em leitura e compreensão de textos.
          A adoção do Enem como principal mecanismo de seleção das universidades é apenas um dos aspectos da proposta de mudança na estrutura do Ensino Médio, aprovada por unanimidade, em junho deste ano, pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). O objetivo do CNE é incentivar a interdisciplinaridade e flexibilizar o currículo para o desenvolvimento de competências e habilidades, em vez de privilegiar o conteúdo. Já está comprovado que o modelo de ensino adotado hoje, cujo conteúdo é dado de modo fragmentado e desvinculado do contexto, é desinteressante e dificulta a aquisição de um posicionamento crítico-reflexivo no enfrentamento de situações-problema que virão a aparecer no cotidiano da profissão.
          O despreparo para a vida profissional e social poderá ser revertido no âmbito da família e da escola. Os pais, portadores das melhores intenções, demonstram temor de ocupar seu lugar e de marcar sua diferença. Assim, evitam a tarefa de educar, que implica fazer interdições, cobrar e frustrar não atendendo a todas às demandas. O confronto com limites prepara para a vida. Sua ausência potencializa a incapacidade de respeitar o outro, de enfrentar situações que envolvem conflitos e contradições, de falar em nome próprio.
          A escola é um lugar onde é possível cidadãos serem mais bem preparados para atuar no mundo do trabalho, em que predomina a economia do conhecimento, e tornarem-se capazes de interpretar e relacionar informações para utilizar esse saber na solução de problemas frente aos desafios e às mudanças do mundo contemporâneo. Aliada a essa possibilidade, está a competência para atuar em equipes, ou seja, conviver com as diferenças, enfrentar conflitos e dificuldades enquanto condição para a aprendizagem na vida pessoal e profissional.

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