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Memória Empresarial: Precisamos Contar Essa História

Os gestores devem se preocupar não apenas com a visão de futuro, mas também com a "visão de passado", resgatando sua memória institucional.
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Publicado em Sun Feb 03 17:21:00 UTC 2008 - Edição 487
          Desde pelo menos a historiografia do francês Jules Michelet, o grande historiador da Revolução Francesa, que a História não descuida do que é aparentemente — só aparentemente — menor. É como se a História também tivesse sido democratizada, voltando-se para caminhos até então relegados a segundo plano. Hoje, contudo, felizmente, a historiografia é outra e se desdobra em várias frentes, inclusive no campo empresarial, que no Brasil ainda começa a dar seus tímidos passos. Como bem nos lembrava o historiador e pesquisador Carlos André Cavalcanti, do INTG, neste mesmo espaço, em artigo publicado em abril passado, "As corporações empresariais são agentes de grande parte da história humana".
          Todavia, no plano das ações, só é possível contar uma boa história se houver fontes, documentos, arquivos e, naturalmente, foco para a preservação daquilo que faz emanar uma bem estruturada narrativa. Nesse sentido, nem sempre os gestores estão atentos à germinação da história em suas próprias empresas. Todos têm hoje uma "visão de futuro", mas a ela não associam, dialeticamente, uma "visão de passado". O tempo que passa parece se esconder num ponto de fuga, caindo na voragem do esquecimento. A conseqüência é a perda da memória, com tudo o que isso implica para a desvalorização de um essencial valor agregado a qualquer marca: a sua própria história. O desafio, pois, é reservar um espaço para a memória. Um bom começo é pensar na gestão do que é memorável, se possível contando com o auxílio técnico de documentalistas e com uma política clara do que é preciso resguardar da fúria destruidora do tempo.
          Estar atento a tais aspectos não é absolutamente um diletantismo, mas um imperativo de identidade. Além da identidade empresarial, está em jogo um gesto publicitário de visível implicação estética e, claro, de valor sociopolítico e amplamente cultural. Sob esse aspecto, a criação e a publicação de um livro de memória empresarial revestem-se de uma face simbólica e de um bem intangível extremamente importante. No plano interno da própria empresa, reforça-se o estímulo e a motivação dos profissionais, registrando-se os fatos e os atores memoráveis, e, no plano externo, ganha-se em propaganda, no melhor sentido dessa palavra.
          Em síntese, com a publicação de sua própria biografia institucional, tanto ganham as empresas e as instituições quanto seus profissionais, tanto ganham suas marcas quanto a sociedade com que interagem. A memória não deve, pois, ser vista como um luxo ou mero exibicionismo, mas como um serviço agregado e voltado para a comunidade. Não por acaso, a tradição é um valor para qualquer sociedade humana, pois a continuidade no tempo significa sobrevivência, e esta, no fim de contas, é o destino que todos desejam. A história e a tradição ("Desde...") nos dizem, implicitamente, que sempre, em cada caso, houve um sucesso contra a adversidade e contra a morte, tenham estas os nomes que tiverem. Assim, se a história não for exatamente uma "ressurreição" — como queria Michelet, acima citado —, que seja pelo menos um testemunho de vitória.

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